Monólitos Post

O livro 50 tons de cinza causou frisson nas livrarias de todo o mundo. O filme com o mesmo título, ainda em exibição no cinema do Supermercado Pinheiro, em Quixadá, segue a mesma trajetória exitosa. Ambos tratam da história do relacionamento entre Christian e Anastasia, baseado no prazer derivado a partir de práticas sadomasoquistas, quando o sofrimento físico cria as condições para o pleno desfrute do ato sexual. Na história, quanto mais a mocinha apanha, mais prazer sente e mais entregue fica ao seu companheiro.

Pois o município de Quixadá parece viver uma relação bem semelhante com seus políticos. Quanto mais apanha deles, mais quer acreditar neles. Cada período eleitoral se torna uma exibição espantosa de enganações que, quando expostas, tendem curiosamente a aprofundar o relacionamento dos eleitores com a mesma classe de pessoas que lhes massacra o couro há anos. O que seria isto senão uma relação sadomasoquista?

O problema, neste último caso, é que tal tipo de relacionamento produz sofrimento real e prejudica, às vezes sem condições de recuperação, os interesses do município. É uma relação baseada na exploração da mentira, da ignorância e do fervor partidário; baseada no apego a nomes e a cores, e não na exposição esclarecida e honesta de projetos realmente possíveis. Veja um exemplo.

Na quinta-feira, dia 11 de setembro de 2014, o então candidato ao governo do Estado, Camilo Santana (PT), subiu ao palanque armado em frente à Igreja de São Francisco, em Quixadá, na companhia de Ilário Marques, Rachel Marques, Odorico Monteiro e uma leva de vereadores, e assegurou aos eleitores deste município que o curso de medicina seria instalado aqui, na Terra dos Monólitos. A mesma promessa foi repetida em outras ocasiões, como na carreata pelas ruas da cidade ao lado de Osmar Baquit, atualmente secretário da Pesca e Aquicultura de Camilo.

Hoje, já governador, Camilo Santana vira as costas para seus eleitores quixadaenses e, apoiado por estes mesmos políticos da Terra dos Monólitos, abraça a decisão de Cid Gomes de levar o curso de medicina para Quixeramobim. (Clique aqui para ler a notícia no site da Assembleia Legislativa.) Mas qual é o problema? Ora, o que foi isto senão uma deliciosa chicotada que adoramos receber, não é mesmo? Não é verdade que gostamos é de peia? Senão vejamos.

Retrocedendo mais um pouco no tempo, podemos lembrar destes mesmos políticos atuando de forma irresponsável com os interesses de Quixadá.

Na disputa pela instalação do Hospital Regional do Sertão Central, por exemplo, apesar das óbvias vantagens técnicas favoráveis a Quixadá, o então governador Cid Gomes, aliado de Ilário, de Rachel e de Osmar, montou o cenário para que o equipamento fosse instalado em Quixeramobim. E o que os amigos do governador fizeram para mudar isso? Uma ficou gripada, outro foi cuidar de um time de futebol e ainda outro, na época opositor do então prefeito Rômulo Carneiro (que foi voz solitária na defesa dos interesses de Quixadá), nem notícias deu. E, no entanto, em 2012, quando estas mesmas personagens fizeram promessas quanto ao curso de medicina, foi no chicote deles que muitos escolheram sentir prazer. Foi ou não foi? Isto é ou não é uma relação sadomasoquista entre políticos e eleitores?

Apesar deste cenário desanimador, ainda há esperança de que uma nova mentalidade se sobreponha a esta realidade cruel. Afinal, como reza o adágio, “tudo demais é veneno” e, desta vez, o que foi feito ao povo de Quixadá foi exageradamente abusivo. A perda do curso de medicina, um investimento de importância estratégica, junta-se à perda do Hospital Regional para alertar à população quixadaense de que, numa hora ou noutra, essa relação sadomasoquista com estes políticos precisa acabar.