Responda com amor a esta sociedade do desequilíbrio e da violência

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Notícias de homicídio há algum tempo não são mais recebidas com surpresa pelos quixadaenses. Mortes a bala – geralmente relacionadas com o intenso tráfico de drogas que se pratica nesta cidade do Sertão Central -, alimentam os noticiários, que vem quase sempre ilustrados com fotografias de corpos caídos ao chão em meio a poças de sangue. Mas quando um filho executa a facadas o próprio pai, como ocorreu ontem em Quixadá, isto choca até mesmo as sensibilidades mais calejadas. Também induz-nos à reflexão.

Na delegacia, o parricida André Barros Vidal, de 34 anos, afirmou em depoimento que seu pai havia recebido recomendação médica para não consumir mais bebida alcoólica. Preocupado com a saúde dele, André teria alertado o idoso várias vezes que não mais aceitaria bebedeiras em sua residência. Embriagado em meio a uma discussão, acabou desferindo dois golpes de faca nas costas do genitor, que não resistiu e morreu. André chorou muito na delegacia se dizendo desgraçado para o resto da vida.

Não há lógica na violência, por isto mesmo parece impossível justificar um ato deste tipo. Ainda mais contra o próprio pai. É provável que André nunca mais encontre paz em sua consciência. Nunca poderá se livrar da lembrança de ter privado da vida aquele que lhe deu a vida.

Um episódio deste tipo é mais do que um ponto na história de violência em Quixadá. Por se tratar de um ato de violência menos causado por fatores sociais do que por aspectos mais particulares da vida dos envolvidos, é algo que levanta interrogações. O que leva à construção de uma personalidade capaz de desequilibrar-se a ponto de cometer tamanha abominação?

Muitos diriam que o episódio se deveu tão somente à condição de embriaguez que entorpece os sentidos e dificulta a percepção da realidade. Outros atribuiriam o parricídio aos tempos em que vivemos que, a bem da verdade, são realmente apocalípticos. Por outro lado, todas as sociedades do mundo, em todas as épocas, sempre tiveram seus picos de sanguinolência. Bastante ilustrativo desta realidade é a história bíblica de Abel, assassinado a pauladas pelo seu irmão Caim.

Há, também, quem tente explicar o ocorrido através de avaliações de cunho psiquiátrico, atribuindo inúmeros micro-eventos na vida do assassino como contribuintes de um resultado final tão trágico. E não falta quem destaque a influência de forças demoníacas no induzimento da selvageria. Talvez todos tenham um pouco de razão.

Seja como for, eventos deste tipo devem abrir um sinal de alerta em todas as famílias e induzi-las a uma reflexão sobre os valores nos quais fundam suas bases.

À parte das estéreis discussões sobre valores demarcados através da identificação do gosto sexual, todas as unidades familiares precisam com urgência repensar o valor do amor sincero, das expressões de afeição e apego, da dedicação ao cuidado do outro, da proteção à infância e a adolescência, da educação para a vida, da comunicação produtiva e da convivência pacífica.

Estes são aspectos que, de um modo ou de outro, tem sido corroídos por tecnologias que se vendem pela capacidade de aproximar os distantes e que, curiosamente, parecem afastar os mais próximos. Os olhos de hoje tem mais intimidade com as telas dos celulares, dos computadores e dos tabletes, do que com a retina das mães e dos pais, dos filhos e dos irmãos. Isto é realmente preocupante.

Portanto, no dia de hoje, ainda consternados pelo ato de chocante violência, reservemos tempo para olhar nos olhos de quem amamos. Para dizer um “eu te amo”. Para presentear a mamãe ou o papai, pela graça de Deus ainda vivos, com um caloroso e demorado abraço. Para compensar com amor sem limites as insanidades desta sociedade do desequilíbrio e da violência.

OS EDITORES




Comentários

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  1. E lamentável .Quando nos deparamos com tanta barbaridade quando o filho tira com tanta crueldade a vida daquele que tantas e tantas vezes derramou seu suor para não deixar nada faltar-le e em troca .e apunhalado nas costas e perde tragicamente sua vida .Mais estamos chegando ao fim .as profecias estão se cumprindo Cristo esta voltando precizamos está preparado. Para que não venha se comprir em nós as profecias escrita na biblia sagrada.meus pêsames a família enlutada e que Deus conforte a cada um

  2. “O que leva à construção de uma personalidade capaz de esequilibrar-se a ponto de cometer tamanha abominação?” Arriscaria responder que um fato passa despercebido na sociedade. Os filhos mandam nos pais. A geração dos nossos pais era outra totalmente diferente. Mas é fato que nos lares onde os pais não têm estruturas para criar seus filhos, estes (também bombardeados pelo mundo de informação e promiscuidade a sua disposição) acabam indo além da desobediência, eles passam a impor regras na vida dos país, se julgando no direito de decidir sobre o futuro daqueles que lhe deu a vida. Muito triste, mas uma situação quase normal na nossa sociedade: o desrespeito monstruoso dos filhos para com os pais.

  3. Muito bacana este texto, bem redigido, propício e verídico, parabéns aos editores do Monólitos Post.

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