O pragmatismo é ótimo quando exercitado num contexto abrangente, onde elementos tais como a reflexão, inclusive a reflexão moral, acompanham as decisões.
Parece ser cada vez mais comum, nestes tempos que o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, descreve como “tempos líquidos”, nos sentirmos pressionados a decidir rápido o que tivermos para decidir.
De fato, é como se este mundo sempre mais apressado tentasse, de todas as formas possíveis, nos induzir a sacrificar os aprofundamentos, a interiorização, a reflexão, a ponderação.
A crença subjetiva desta realidade, já introjetada nesta geração e expandida em cada um de nós, segundo após segundo, durante todo o dia, através de meios até imperceptíveis, tais como os pequenos aparelhos tecnológicos facilitadores de tudo, vai nos levando ao hábito de sacrificar o ato de pensar para decidir. Tudo deve ser tão rápido quanto um simples clique.
São raros os espaços que incentivam e trabalham o exercício do pensamento organizado, a lógica, a razão, a busca do saber livre das correntes da pressa.
O resultado direto deste fenômeno é um mundo líquido mesmo, sem forma, indefinível – exceto pelo exato momento passado e que já nada mais significa -, um mundo onde as convicções e a segurança das certezas já não são desejáveis.
Neste toque insistente, a tendência é o sacrifício de tudo o que confere alguma estabilidade, imprudentemente confundida com valor ultrapassado ou valor tradicional. A coisa é tão forte, que até a palavra “tradicional” mais parece uma peça esquecida no final da velha prateleira do museu.
Este é o típico movimento das estruturas de convivência que acaba em alguma forma de revolução. Realmente, como resultado da chegada feroz do valor da superficialidade, do pragmatismo e da velocidade que sufoca a reflexão – justificados com os mais sedosos argumentos, daqueles típicos dos terrenos de defesa do que é moderno -, as sociedades serão levadas ao caos.
Sem referenciais de estabilidade, rachar-se-á o tecido que emenda a paz, o fino trato, a civilidade e tudo o mais que nos permite buscar liberdade e felicidade com a necessária segurança.
Que este mundo líquido encontre, antes disso, uma maneira de permanecer assim mesmo, mas sob o chão da capacidade humana de pensar, e de pensar ao ponto de encontrar no pensamento as bordas do amor. E que todos nós sejamos pragmáticos em amar, reconhecendo nele a salvação neste “círculo vitruviano”, perfeito, que é a existência.
________
- Instagram: @gooldemberg_saraiva
- Facebook: Gooldemberg Saraiva
- Contato: (88) 9 9972-5179 / bergsaraiva@gmail.com
Muito bom!