Ouça áudio: Prefeito não consegue manter parceria público-privada e lixão volta a funcionar em Quixadá

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Prefeitura fez uma festa e divulgou o “FIM” definitivo do llixão (Foto: Site da PMQ)

11 de novembro de 2017, 09 horas, a Prefeitura Municipal realizava um ato público, com a presença de aproximadamente 200 pessoas, para anunciar o “fim definitivo do lixão de Quixadá”. A época, a gestão fez barulho para comemorar a ação, realizando um evento no local em que o Executivo denominava “terreno do antigo lixão”. Agora, em 2018, passados quatro meses, o sonho tornou-se decepção. É que a parceria público-privada, que possibilitaria o transporte dos resíduos sólidos até o município de Senador Pompeu, não deu certo. Os empresários queriam uma coisa e o prefeito Ilário Marques (PT), intransigentemente, exigia outra, demonstrando que a ação foi mais uma vez um “ato” de falta de planejamento e competência.

O fim da parceria foi comunicado em encontro, realizado, a portas fechadas, no último sábado (17), no gabinete do petista, no Centro Administrativo. Evitando os holofotes da imprensa, ele informou que os resíduos produzidos pelos quixadaenses voltarão, ainda nesta semana, a ter como destino o lixão, que fica as margens da CE – 060. “Dentro lá do nosso lixão é possível fazer uma vala… e fazer o chamado aterro controlado, enquanto se faz o destino final adequado que a lei exige, mas que o prazo é a partir de 2020. Então nós teríamos dois anos para criar uma alternativa, como todos os outros municípios, que é obrigado. Isso pode ser prorrogado, vem à alternativa para fazer. A partir de terça-feira nós já temos aqui uma retroescavadeira para fazer uma vala… faz a vala e começa a fazer um aterro controlado”, anunciou o alcaide.

O fim do lixão representaria um alívio para as pessoas que moram nas proximidades. Lá era depositado, aproximadamente, 70 toneladas de resíduos por dia, de acordo com Relatório Técnico de Vistoria/Ambiental produzido, em agosto de 2014, pelo Núcleo de Apoio Técnico (NAT) do Ministério Público do Estado Ceará. Como a ação foi mal planejada, os moradores voltarão a sofrer com a poluição ambiental gerada pelo lixo que será novamente jogado no local.   

No dia da festa do lixão, Baquit sinaliza com o número 4 para o prefeito. Seria a previsão do tempo para a volta do lixão? (Foto: Facebook)

Quem parece que previu o que ai acontecer foi o deputado estadual Osmar Baquit. Por ironia do destino, o parlamentar, no dia do anúncio do fim do lixão, fez um sinal com a mão para o prefeito, mostrando o número quatro, tempo necessário para que a Prefeitura retomasse a atividade de receber os resíduos sólidos. Já o chefe do Executivo, demonstra que não tem medo da opinião dos quixadaenses em relação às ações que devem ser tomadas para o retorno do depósito do lixo para o seu antigo local. “Eu falar para população o que está acontecendo, pra mim não é desgaste nenhum”, desdenha.

Esquece o prefeito de informar que o erro custará aos contribuintes, pois serão os responsáveis pelo pagamento de novas ações para manter a vala que ele sugeriu. Além disso, a população do entorno, como moradores do bairro Boto, por exemplo, sofrerão com a fumaça tóxica provocada por incêndios, que se proliferam porque parte dos resíduos jogados no lixão pegam fogo devido à exposição ao sol e do gás metano que se acumula em locais com grande quantidade de lixo.

O consultor ambiental, Flávio França, que foi chefe da Limpeza Pública em uma das gestões de Ilário Marques, considera que o anúncio realizado no ano passado foi uma ação equivocada. “O maior problema foi na operação de transbordo, pois não havia a quantidade de contêineres ideal para isso. É complicado levar oitenta toneladas de lixo por dia para Senador Pompeu. Foi uma grande pisada de bola, fazer uma propaganda como foi feita e agora tudo deu para trás”, comentou.

No relatório elaborado pelo NAT foi informado que a Prefeitura Municipal, à época, iria construir uma nova área de armazenamento de resíduos sólidos, em sistema consorciado e que o novo aterro seria implantado em uma área despovoada, entre os municípios de Quixadá e Choró.

Ação prevista seria mais viável, mas a de abertura de vala não é aconselhável, na opinião de Flavio França. “Pode controlar alguma coisa, mas vai continuar poluindo. A abertura da vala naquele local não é adequada, pois lá foi aterrado, ou seja, é preciso tomar cuidado porque há rachaduras e pode causar algum problema quando os veículos forem descarregar”, comentou.

O consultor ambiental citou ainda outras medidas para solucionar o problema. O município precisaria investir nas pré-coletas, preparar a cidade para não geração de resíduos e para reutilização de parte do lixo produzido, bem como encaminhar os materiais recicláveis para a indústria. “25% do material produzido em Quixadá é reciclável. Além disso, 50% é matéria orgânica compostagem. É possível fazer um pátio de compostagem e para isso precisa mudar a metodologia da coleta sistemática e realmente implantar um sistema de coleta seletiva, que foi o que imaginamos para Horizonte. O trabalho é árduo, mas é possível. É preciso, também, investir pesado e maciço em um programa de educação ambiental com inclusão social dos catadores”, sugere Flávio França.

A população pergunta

Durante o evento realizado em novembro de 2017 para anúncio do fim do lixão, o alcaide local, prevendo que ação daria certo, optou por propagandear, em demasia, o fato. Ele convidou os prefeitos de Choró, Marcondes Jucá; de Senador Pompeu, Maurício Pinheiro; estudantes universitários, empresários e lideranças da Terra dos Monólitos, bem como da região.

Já para anunciar a volta, Ilário Marques, preferiu algo mais contido. O petista realizou uma reunião fechada, pouco concorrida, com a presença apenas de alguns secretários e meia dúzia de vereadores. Por que anunciar o assunto em um encontro fechado? É difícil admitir em público um erro quando se autodenomina “gestão inteligente”?

Fique sabendo: O que é um aterro controlado?

Aterro Controlado é o local onde os resíduos são dispostos com algum tipo de controle, mas ainda assim contra as normas ambientais brasileiras. Geralmente, têm o mínimo de gestão ambiental, como isolamento, acesso restrito, cobertura com terra e controle de entrada de resíduos, entretanto não atendem às recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos.




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