GENTE DA GENTE: ENTREVISTA ||| Montanhista Rosier Alexandre

- por
  • Compartilhe:

Rosier Alexandre tem uma história surpreendente. Descendente de uma família de agricultores, nascido na zona rural, num pequeno casebre de taipa em meio a caatinga sertaneja, trabalhou como agricultor até os 15 anos, foi engraxate e vendedor de frutas. Saiu do anonimato para entrar para a história quando se tornou o primeiro 1781956_10202816117299948_1186757068_nmontanhista do Nordeste a escalar o Aconcágua (6.962m), a maior montanha da terra fora da Ásia.

Ele também é dono de um outro feito inédito: abriu a bandeira cearense no cume da maior montanha de seis continentes: América do Sul, África, Europa, Oceania, América do Norte, Antártida e, inclusive, sobre o maior vulcão do planeta.

Rosier está executando o projeto Sete Cumes, que consiste na escalada da maior montanha de cada continente. Até o momento, já executou com pleno sucesso seis etapas e planeja até maio de 2015 chegar ao cume de todas, fechando o projeto com o Everest (8.848m), a montanha mais alta da terra.

No mês passado, durante a maior tragédia já registrada no Everest, Rosier estava lá. Ele nos conta um pouco do que testemunhou. Na entrevista abaixo, explica também o motivo de ter deixado de trabalhar como Secretário de Turismo de Quixadá e conta o que deve ser feito para catapultar o setor na mais bela cidade do sertão central cearense.

10156167_776561245700952_7483634835238294502_nNa próxima quinta-feira, 15, Rosier será um dos entrevistados do PROGRAMA DO JÔ. Numa entrevista bem humorada e descontraída, o cearense conta como nasceu sua vontade de escalar montanhas geladas e o que o move a realizar seus sonhos.

Gentil e acessível, o montanhista encontrou espaço em sua agenda para conceder a Jaime Arantes a entrevista que se segue.

JAIME ARANTES: Quando e como surgiu o projeto Sete Cumes?

10322727_775153749175035_766835748681508097_nROSIER: O Projeto Sete Cumes é um sonho de infância. Eu não entendia como nem quando, mas eu já sabia que as montanhas fariam parte da minha vida. Desde a adolescência que eu já subia montanhas, mesmo sem equipamentos. Somente aos 28 anos que comecei a escalar utilizando equipamentos técnicos e, aos 36 anos (em 2004), comecei a escalar montanhas geladas.

Em janeiro de 2006 escalei o Aconcágua (6.962m), a maior montanha da terra, fora da Ásia. E em 2009 escalei o Ojos del Salado (6.893m), o maior vulcão da terra. Após esta conquista tomei a decisão de escalar os Sete Cumes e aí nasceu oficialmente e publicamente o PROJETO SETE CUMES.

JAIME ARANTES: Qual foi a subida mais difícil até hoje e por quê?

10304339_775150012508742_6148124417814843879_nROSIER: Alta montanha é um ambiente que mescla gelo, pouco oxigênio e ar rarefeito, esta mistura é sempre perigosa, mas a escalada do McKinley (6.194m), a maior montanha da América do Norte, foi a que me exigiu maior experiência técnica e maior esforço físico.Primeiro por ser uma montanha isolada onde não tem prestadores de serviços, ninguém para transportar nada seu, ninguém para cozinhar e por aí vai e ainda tem muitas gretas perigosas, arestas com abismos de 700 metros onde andamos com um pé na frente do outro sem espaço para um do lado do outro e ainda algumas paredes de gelo muito inclinadas, onde uma queda é fatalidade certa. Foi a montanha mais selvagem que já escalei e também a mais bonita.

JAIME ARANTES: Como é a preparação para as escaladas?

ROSIER: Tenho uma equipe técnica: médico, educador físico, nutricionista e juntos montamos um plano de treinamento que ocorre dentro de uma academia. Esporadicamente pedalo, corro na rua e ainda escalo em muro artificial e, sempre que tenho tempo, escalo em rocha também.

JAIME ARANTES: Todo mundo diz que subir montanhas é uma aventura que custa muito caro. É verdade? E como funciona o financiamento do projeto Sete Cumes?

1175380_10201404594612763_1586688796_nROSIER: Escalar montanhas rochosas tem um custo que é relativamente baixo, mas escalar montanhas geladas é bem caro mesmo. A minha empresa (TBC CONSULTORIA) banca uma parte dos custos e tenho alguns parceiros que bancam a outra parte. Em contrapartida lhes ofereço exposição na mídia e palestras nas suas empresas.

JAIME ARANTES: Sua tentativa de chegar ao topo do mundo, no Everest, coincidiu com a maior tragédia registrada naquela região. Qual foi o momento mais difícil pra você?

10300675_775153085841768_2555434925221636567_nROSIER: Cancelar uma expedição sem ao menos ter a oportunidade de tentar chegar ao cume é bem duro, mas o pior foi ver 16 mortes, sendo 3 de amigos da minha expedição. A imagem dos corpos machucados sendo resgatados foi marcante e, se possível, eu quero apagar da memória. Todos nós que vamos a uma montanha estamos cheios de expectativas e sonhos e queremos realizá-los e isso não combina com mortes, mas ela teima em aparecer e precisamos conviver com esta situação e até aprender a conviver com ela.

JAIME ARANTES: Como funciona o dia a dia num lugar como o Everest?

10250206_775150555842021_4740843317276185362_nROSIER: Até o campo base (5.350m) é uma caminhada de montanha em grande altitude que exige um grande esforço físico, mas ainda sem grandes riscos. Porém, acima do campo base, onde começa a escalada de paredes de gelo e transposição de gretas é que as dificuldades e grandes riscos aparecem. Normalmente alternamos, um dia, dois ou três de subidas pesadas para aclimatação e normalmente um ou dois dias de repouso e recuperação e novamente repete o ciclo. Durante o dia escalamos e no final da tarde ou noite tentamos conectar a internet via satélite para dar notícias para a família, amigos e imprensa.

JAIME ARANTES: Creio que sua família deve ficar muito apreensiva cada vez que você parte para uma grande aventura nas montanhas. Como eles lidam com a apreensão?

1897924_10202848224862617_514309018_nROSIER: A situação é tensa, não tem como ser diferente. Everest é sempre Everest, a maior montanha da terra e com um índice de fatalidades muito alto. Mas  minha família tem um nível de confiança bem forte em mim, o que não tira a apreensão, mas alivia de certa forma. Na medida do possível, nos falamos quase que diariamente via telefone por satélite. Nem sempre o sinal é bom, mas sempre é suficiente para dar notícias.

10365866_775151892508554_9087892699484722479_nJAIME ARANTES: Imagino que as condições climáticas e a distância de tudo criam situações que, talvez, sejam engraçadas para os montanhistas. É verdade? Pode citar um exemplo?

ROSIER: Na verdade, não seria bem engraçado, mas é curioso, a falta de oxigênio pode deixar as pessoas “fora do ar”, já vi alguém falando em dormir ao relento e dizer: “- a neve vai me aquecer”. Quando vi isso achei que a pessoa estava brincando, mas logo em seguida percebi que a falta de oxigênio estava deixando esta pessoa em alto risco de vida, ela já estava perdendo a consciência.

JAIME ARANTES: Realmente, isso aí não é engraçado mesmo. Quando será o seu retorno ao Everest?

ROSIER: Eu não negocio sonhos, isso eu não abro mão, mas as vezes precisamos negociar o prazo, e foi o que ocorreu este ano quando eu estaria concluindo o PROJETO SETE CUMES, mas por conta da grande tragédia precisei adiar para 2015. A partida do Brasil será no dia 29 de março de 2015.

JAIME ARANTES: Quinta-feira, dia 15, o programa do Jô exibirá uma entrevista com você. O que achou da experiência de ser entrevistado por ele?

10371760_776543639036046_6720832099832336999_nROSIER: É muito bom ser reconhecido, saber que você está fazendo algo especial. Um convite para ser entrevistado pelo Jô Soares é um sonho para milhares e talvez milhões de brasileiros e saber que estive ali compartilhando a minha história com o Brasil inteiro é muito bom.

JAIME ARANTES: Se possível, poderia nos dizer por que deixou de ser Secretário de Turismo de Quixadá? E qual a receita para nosso município decolar na questão do turismo?

ROSIER: Antes de tudo quero dizer que não tenho vocação política, não tenho a menor pretensão de candidatar-me a absolutamente nada. Quando vejo um candidato gastar alguns milhões em uma campanha, literalmente brigando por um cargo, fico muito triste, pois certamente ele vai querer uma “compensação” pelo que investiu.

1385766_404017249725017_852721826_nEu aceitei o convite para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo porque o prefeito me garantiu autonomia e independência para trabalhar e desenvolver a economia e o turismo de Quixadá, porém, ao chegar lá, deparei-me com outra realidade: não vi nenhum compromisso com a população.

Uma gestão que gasta R$ 400.000,00 com 4 noites de carnaval, enquanto existem funcionários com salários atrasados e faltam médicos e medicamentos nos hospitais e postos de saúde, já disse qual é o seu objetivo.

Considerando a natureza privilegiada de Quixadá e localização, não é difícil promover o turismo, porque isso já vem de certa forma ocorrendo espontaneamente e nem precisa mais dinheiro que o orçamento do município já dispõe, mas precisa o mínimo de comprometimento, alguém que entenda de turismo e trabalhe fazendo a promoção.

Eu queria planejar ações que trariam resultados a curto e médio prazo para o turismo, não é difícil multiplicar por 10 o fluxo turístico em Quixadá, mas a gestão municipal coloca interesses políticos acima dos técnicos e o que vemos é triste, nenhum planejamento, somente um continuísmo político sem qualquer comprometimento com mudanças.

Para o turismo ocorrer de fato precisamos envolver toda a população, os empresários, a comunidade, deixando a politicagem e o partidarismo de lado. Precisamos ser transparentes, unir forças e Quixadá está com muita dificuldade em fazer isso. A responsabilidade maior deste fracasso é dos gestores públicos, mas a população com suas paixões políticas e baixo senso crítico tem uma boa parcela de responsabilidade. A população é apaixonada ou odeia um político e/ou partido e deixa o senso crítico de lado, as emoções falam mais alto que a razão e assim vemos mudar os nomes, mas continuamos com gestores sem nenhum compromisso com o povo.

O que faço, faço bem feito. Quando assumi a secretaria o meu compromisso era ser 100% transparente e envolver a população e deixar um legado. Eu tinha e continuo tendo uma preocupação em deixar um legado para as gerações futuras, mas quase todos só pensam na próxima eleição e em se manter no poder. O foco dos gestores é: Isso dá voto? Isso agrada? E não pensam: Isso é verdadeiramente bom para a população? São resistentes às mudanças necessárias e colocam seus interesses acima do bem comum, o individualismo impera alto.

Quando me forçaram a ir contra os meus princípios bati de frente. Jamais fiz ou vou fazer algo que me deixe assustado, meu celular é ligado 24 horas e atendo a todos. Não abro mão dos meus valores e da minha tranquilidade de consciência e isso eu não poderia preservar na secretaria, infelizmente. Saí de cabeça erguida. Hoje posso me dedicar mais à minha empresa, aos treinamentos para a conclusão do PROJETO SETE CUMES, continuo fazendo o trabalho voluntário em escolas públicas e instituições sem fins lucrativos, ganhei mais tempo para a família e certamente estou mais feliz.

Assista palestra de Rosier no TEDxFortaleza, intitulada: “Eu posso mudar o mundo”:

—///— 

Esperamos que tenham gostado da entrevista com o montanhista. Em breve anunciaremos o próximo entrevistado. Se quiserem sugerir nomes para entrevistas neste quadro, utilizem o e-mail jaimearantesquixada@gmail.com ou o aplicativo WhatsApp, no número 88 9653-7692.

 

 

 




Comentários

Os comentários abaixo não representam a opinião do Monólitos Post; a responsabilidade é do autor da mensagem.
  1. Quando uma pessoa que não é ligada a política conhece os “bastidores do poder” não tem como não ficar abismado. Lamento por Quixadá, que perdeu uma ótima pessoa e um profissional extremamente competente. Mas devo concordar que uma pessoa como o Rosier ter que dividir a mesma sala com João, Weiber Queiroz, Bamba, Eleri Matuto, Rena, Brena, Blasco e outros incompetentes, deve ter sido uma experiência de embrulhar o estômago. Melhor escalar montanhas e picos gelados mesmo.

Deixe seu comentário

Os comentários do site Monólitos Post tem como objetivo promover o debate acerca dos assuntos tratados em cada reportagem.
O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade civil e penal do cadastrado.