A fome e a sede nos Municípios de Canindé, Caridade, Itatira, Paramoti e Madalena é o retrato dos Sertões de Canindé na pior seca dos últimos 50 anos no Ceará.
Percorremos os cinco Municípios em dois dias e pode constatar o avanço do êxodo rural. Famílias inteiras deixaram para trás o que restou da estiagem.
No Município de Canindé, distante 126 quilômetros da capital, numa área de 3.218km2, para se ter uma noção do prejuízo populacional, a previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE para 2009 era de 77.552 moradores. Depois da realização do Censo de 2010, a população de Canindé ficou em 72.303 habitantes, uma perda de 5.849 pessoas.
O Prefeito passou o dia reunido com assessores e disse que vai encomendar uma pesquisa para saber quem foi pesquisado no Município. Segundo ele, ninguém o entrevistou durante o recenseamento.
Em Caridade, a situação também é preocupante. Cidade que fica a 94 quilômetros da capital, numa área de 846km2, segundo dados do IBGE moravam em 2009 19.233 moradores. Depois do Censo ficaram na região apenas 17.181. A queda é de 2.052 habitantes.
No terceiro Município visitado Paramoti que fica a 62 quilômetros da capital, numa área de 483km2 em 2009 moravam segundo o IBGE 12.130 pessoas. Após a realização do Censo ficaram apenas 11.032 habitantes. Deixaram a região 1.098 moradores.
O avanço do êxodo rural é visível. Casas fechadas, principalmente na zona rural denunciam a falta de perspectiva do homem do campo que fugiu da seca levando o pouco que restou.
Na cidade de Madalena, que está a 182 quilômetros de Fortaleza, numa área territorial de 1.035km2, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas tinha nas previsões para 2009 17.773 moradores. Após a contagem do Censo existem oficialmente 17.067 moradores. Foram embora 706 pessoas.
Na região serrana de Itatira num raio de 783km2 distante 201 quilômetros de Fortaleza, foi a única que teve um aumento populacional. Em 2009 residiam 18.875 habitantes. Depois da contagem de 2010, foram identificadas 18.894 pessoas. Houve um aumento de 19 moradores. Mesmo assim, a situação de água para o consumo humano tornou-se um caso preocupante.
O prefeito de Canindé Cláudio Pessoa mostra-se preocupado com a situação. ”Nós estamos enfrentando a pior seca dos últimos tempos. Isso nos preocupa muito, porque os nossos recursos são pequenos, mas estamos fazendo as coisas dentro das nossas possibilidades. Da maneira que se encontra é necessária a ajuda dos Governos Federal e Estadual”, prevê Cláudio Pessoa.
Júnior Tavares prefeito de Caridade é outro que estar preocupado. ”A perda populacional poderá nos causar transtornos nas receitas do Município. Foi um duro golpe nas pequenas regiões. Quem sobrevive do Fundo de Participação dos Municípios tornou-se inviável administrar com tantos prejuízos”, lamenta Júnior Tavares.
O coordenador de sub-área do Censo de 2010 em Canindé Francisco Erivaldo Costa tranqüiliza os prefeitos de que a queda da população não irá afetar o coeficiente do FPM. Esses prejuízos dar-se por conta da saída da população do campo em busca de melhoria de vida nas cidades e para outros centros.
Muita gente foi embora para São Paulo trabalhar no corte de cana em cidades do interior paulista. Os que não reúnem condições ficaram.
É o caso do casal Francisco Ribeiro Moura e Maria José Moura que não deixaram a localidade de Guarani Bom Lugar na divisa de Canindé com Tejuçuoca, porque não tem recursos para custear as despesas com passagem para São Paulo.
O êxodo rural é sem dúvida mais uma grande dor de cabeça para os governantes. Se não irá afetar nesse momento, futuramente poderá trazer sérios danos para projetos sociais, que por incrível que pareça é o que estar salvando vidas no sertão do Ceará.
Fonte: Antonio Carlos Alves – RJC