O senador Aécio Neves (PSDB-MG) traçou nesta quarta-feira, dia 06, em pronunciamento da tribuna do Senado, o que ele considera ser o papel da oposição no governo da presidente Dilma Rousseff.
No discurso – ouvido por um Plenário cheio e aplaudido, ao final, por quase todos os senadores presentes -, Aécio também destacou conquistas de governos anteriores e enfatizou a importância da política para o entendimento das diversas correntes de pensamento brasileiras.
Após o pronunciamento, assistido pelo candidato derrotado do PSDB nas últimas eleições presidenciais, José Serra, Aécio recebeu apartes de vários parlamentares.
O parlamentar mineiro lembrou sua experiência legislativa – foram quatro mandatos consecutivos na Câmara dos Deputados, dois deles como presidente da Casa – e sua ação como administrador no governo de Minas Gerais, nos últimos oito anos, para dizer que é “homem do diálogo, que não foge às suas responsabilidades e convicções”.
O ex-governador de Minas citou as várias correntes ideológicas do país para dizer que o Brasil é “resultado de uma vigorosa construção coletiva”. Acrescentou que, “ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, o país não nasceu ontem”, mas é fruto “dos erros e acertos de várias gerações de brasileiros, de diferentes governos e líderes e também de diversas circunstâncias histórias e econômicas”.
– Não chegamos até aqui percorrendo os mesmos caminhos. Não podemos e não devemos nos esquecer das grandes diferenças que marcam a visão de país das forças políticas presentes na vida nacional das últimas décadas – afirmou.
O senador traçou um paralelo entre o PSDB e o PT, a princípio sem citar os nomes dos dois partidos. Referindo-se a seu grupo na primeira pessoa do plural, contrapondo, do outro lado, “os nossos adversários”, lembrou que seu grupo apoiou a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral em 1985; apoiou o governo do presidente José Sarney no processo de consolidação da democracia no país; e apoiou o presidente Itamar Franco no lançamento do Plano Real, enquanto repetia: “os nossos adversários, não”.
Lamentou que “os nossos adversários” tenham chegado “ao extremo” de ir à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, instituída no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Também disse que o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) foi cercado por “incompreensões e ataques cerrados dos nossos adversários, os mesmos que o utilizaram para ultrapassar o inferno da crise de 2009 e que o apresentam agora como instrumento de boa governança ao mundo”.
O ex-governador reconheceu os avanços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citando como principal deles “a manutenção dos fundamentos da política econômica implantada nos governos anteriores”. Disse também que “o adensamento e a ampliação das políticas sociais foram fundamentais para que o Brasil avançasse mais”.
Aécio enfatizou que o governo de Dilma Rousseff é a continuidade do governo Lula. Para Aécio, o que se vê é “o continuísmo das graves contradições dos últimos anos”:
– O Brasil cor-de-rosa, vendido competentemente pela propaganda política apoiada por farta e difusa propaganda oficial, não se confirma na realidade – disse o senador, pregando a necessidade de “um choque de realidade que nos permita compreender a situação do país hoje”.
Aécio afirmou que o desajuste fiscal, “tantas vezes por nós denunciado, exige agora um ajuste de grande monta que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância”.
Disse ser consenso que o Brasil convive hoje “com o grave risco de desindustrialização de importantes setores da economia”. Lembrou que a participação de produtos manufaturados nas exportações brasileiras, que era de 61% em 2000, recuou para 41% em 2010.
O senador afirmou que “a farra da gastança dos últimos anos” fez renascer “a crônica e grave doença da inflação”. Citou relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial no qual, entre 20 países, Brasil ficou em 17º lugar no quesito qualidade geral de infraestrutura; em último lutar na qualidade da infraestrutura portuária; e penúltimo na qualidade de estradas.
O senador lamentou ainda que as reformas constitucionais “continuem a espera de decisão política para que sejam debatidas e aprovadas”, sem qualquer iniciativa concreta do governo para tal.
O senador destacou a força da oposição política no Brasil, que governa mais da metade dos estados e teve 44 milhões de votos para a Presidência da República. Para o parlamentar, a oposição deve atuar “em três diferentes e complementares frentes”.
A primeira, a postura perante o governo, deve ter como metas a fiscalização rigorosa, a indicação do descumprimento de compromissos assumidos, a denúncia de desvios, erros e omissões e a cobrança de ações importantes para o país.
A segunda deve resgatar o equilíbrio da federação brasileira, diminuindo a concentração de impostos, recursos e poder de decisão na esfera da União, “uma das mais graves de toda a nossa história”. E, como terceiro eixo de atuação, destacou “a coragem que tivermos para assumirmos e partilharmos as indagações e as indignações de nosso tempo”.
Para Aécio Neves, a oposição tem de pautar sua atuação sobre três valores: coragem, “para resistir à tentação da demagogia e do oportunismo”; responsabilidade, para poder cobrar responsabilidade do governo; e ética, “não só a das denúncias e a da transparência e da verdade, mas uma ética mais ampla, íntima, capaz de orientar nossas posições, nossas ações e compromissos, todos os dias”.