Na última sexta-feira, 21, o jornal O Povo noticiou que o Ministério Público do Ceará havia entrado com ação contra o ex-presidente da Câmara Municipal, José Duarte Pereira Júnior (PSL) – conhecido como Zé de Amélia – e outros sete envolvidos em casos de improbidade administrativa.
Quais são as acusações do MP? Vão desde fraudes em licitações até superfaturamento na compra de produtos para o Legislativo. O caso pode ter prejuízos de até R$ 1,5 milhão e é semelhante ao “Escândalo das Vassouras”, que estourou no Município em agosto do ano passado. A investigação abrange a gestão de Zé de Amélia, entre 2009 e 2010 e revela um tipo de escândalo que, pelo visto, tem se tornado cada vez mais comum nas gestões públicas.
No município de Quixadá, bem como em outros localizados no sertão central do Estado, informações acerca de procedimentos escandalosos levados à cabo por gestões públicas também tem sido veiculadas através da imprensa falada e escrita. Estes escândalos possuem, basicamente, as mesmas características.
Enquanto em Juazeiro do Norte teriam sido adquiridas 12 mil vassouras na gestão da Câmara Municipal investigada e denunciada pelo MP, em Quixadá a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, a SEDUMA, que tinha Francisco das Chagas da Silva como ordenador de despesas, autorizou a compra de 100 mil sacos de lixo em 2013. Sobram vassouras em Juazeiro, sobram sacos em Quixadá.
Outros dados públicos relacionados, desta vez, com as despesas da Fundação Cultural de Quixadá, cujo ordenador de despesas é Francisco Blasco Monte de Oliveira, mostram que a pasta comprou em 2013 75 mil sacos de lixo. O estranho é que a Fundação Cultural de Quixadá cuida, praticamente, de apenas dois locais na cidade: o Museu Histórico Jacinto de Sousa e o Centro Cultural Rachel de Queiroz, onde também está localizado o famoso Chalé da Pedra. É como se cada um destes locais tivesse utilizado mais de cem sacos de lixo por dia, durante todo o ano de 2013, algo inimaginável, ainda mais quando se constata que, às vezes, nenhuma lixeira está disponível nos locais citados, muito menos sacos de lixo.
Em Choró, município vizinho à Quixadá, a Prefeitura gastou 160 mil reais na compra de quentinhas. A quantidade de pratos feitos adquiridos daria para ser distribuída para mais de 10% da população do município mensalmente.
Enquanto o Ministério Público atuou fortemente em Juazeiro do Norte, no sertão central não se ouviu falar de nenhuma reação aos escândalos mais recentes. Também nenhuma das forças políticas em atuação nesta região central do Ceará chegou a demonstrar formalmente preocupação com os casos expostos pela mídia e, concordemente, nenhuma denúncia parece ter sido feita ainda ao Ministério Público.
Em Quixadá e Ibaretama, importantes investigações do MP foram arquivadas pela Justiça. Em Quixeramobim, também no sertão central, o promotor de justiça, Igor Pinheiro, que promoveu diversas iniciativas de fiscalização, foi designado pela Procuradoria Geral de Justiça do Estado para integrar, em nome do MP, grupo que acompanhará e fiscalizará todo o processo eleitoral deste ano, o que aparentemente amornou as investigações naquele município.
Em Quixadá, por exemplo, usuários das redes sociais tem se manifestado com cobranças duras, e muitos chegam até mesmo a pedir socorro ao MP. Resta saber até que ponto tais episódios escandalosos deixarão de ser apenas notícias de uma semana e se transformarão em investigações sérias, destinadas a proteger a sociedade.
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