‘As pessoas me tratavam como um monstro’, diz quixadaense portador do HIV

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Nesse período de carnaval, o poder público costuma organizar a distribuição de preservativos nas principais avenidas da cidade. A ação tem caráter preventivo e visa diminuir a quantidade de gravidezes indesejadas e, principalmente, a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), tais como a AIDS.

Essas medidas são importantes, porém, como alertam autoridades médicas, não são suficientes e deveriam ser precedidas por um trabalho de conscientização de longo prazo. Na realidade, a AIDS tem sido esquecida nas discussões públicas, o que é muito perigoso, pois esse silêncio pode dar a entender que já existe cura para a doença, e não existe. A AIDS continua ameaçando a sociedade. Em Quixadá não é diferente.

Neste município do Sertão Central do Estado, há cerca de 150 pessoas contaminadas fazendo tratamento para combater o HIV. Muitos outros não aceitam receber ajuda e prosseguem se comportando como se não tivessem o vírus. Agora mesmo, enquanto você está lendo essas linhas, há um quixadaense, portador do HIV, internado numa unidade de tratamento intensivo, no hospital São José, em Fortaleza, lutando para continuar vivo.

A AIDS não tem cara, sexo, religião, cor ou condição social. E também não tem cura. Prevenir-se ainda é o melhor caminho para escapar dos efeitos da contaminação.

EXPERIÊNCIA REAL

José Valdir Oliveira (foto no topo), quixadaense de 45 anos, contou a editores do Monólitos Post sua experiência como portador do vírus HIV.

Valdir foi diagnosticado com o HIV em 28 de abril de 1997, quando a ciência médica ainda rastejava na luta para produzir medicamentos capazes de oferecer relativa qualidade de vida aos infectados e, claro, impedir a rápida degeneração física causada pelo vírus.

“O impacto da notícia do diagnóstico é muito forte. Você se enche de negatividade e começa a pensar em tudo que vai perder e até na morte”, diz Valdir. Para ele, porém, muito pior do que todas as dificuldades causadas pelo vírus foi ter de enfrentar o preconceito. “No começo, algumas pessoas que sabiam da minha doença me viam como um monstro. Elas achavam que eu queria espalhar a doença infectando propositalmente os outros. Mas era tudo mentira. Eu nunca quis isso. Passei por momentos muito difíceis por causa do preconceito”, ele conta.

Valdir conta que sua família tem papel muito importante em sua luta para conviver com o vírus HIV. “Minha família me deu amor desde que recebi o diagnóstico. Nunca se afastou de mim e me ajudou a aprender como viver nestas circunstâncias”, diz.

Há dez anos, Valdir participa da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+BRASIL). O lema desta comunidade é: “Antes nos escondíamos para morrer, hoje nos mostramos para viver.” A frase define bem o período de mudanças na vida de Valdir desde que ele foi diagnosticado com HIV. Hoje, ele não teme ser visto como portador do vírus e diz já ter superado o preconceito.

“Ainda há muito preconceito, mas a sociedade quixadaense já olha para o assunto com olhos diferentes daqueles do início da minha luta”, relata Valdir. Como membro da RNP, Valdir já atuou para trazer à cidade palestrantes experientes para ajudar aqueles que lidam com a árdua rotina imposta pelo HIV.

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Valdir reclama do poder público. Segundo ele, os políticos poderiam fazer muito mais para facilitar a vida de quem é portador do vírus e, inclusive, para conscientizar a sociedade sobre a importância de continuar se protegendo eficazmente contra o HIV. “A falta de interesse dos políticos pelo tema me enoja. Será que eles não pensam que amanhã poderá ser eles ou um parente deles a portar o vírus?”, desabafa.

Conforme ele explica, o Governo Federal, através do Ministério da Saúde, fornece gratuitamente os medicamentos que ele necessita. Em Quixadá, ele os recebe em um posto de saúde, pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE). Cada paciente é avaliado e toma uma combinação diferente de remédios. Valdir explica que toma uma combinação de cinco medicamentos diferentes e que as reações do corpo a eles são muito fortes.

“Espero que a exposição da minha luta contra o HIV inspire outras pessoas a fazer aquilo que tem de ser feito, ou seja, se proteger e não cair nesta armadilha em que caí”, afirma Valdir.

PREVINA-SE

Neste carnaval, não permita que uma aventura momentânea, sem proteção, destrua sua qualidade de vida e ameace sua saúde. Use camisinha e evite práticas prejudiciais ao próprio corpo. A AIDS ainda existe e continua sem cura!




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