Quixadá já foi descrita em diversas publicações especializadas como a “Meca do Voo Livre”. O título não é sem razão. O município localizado na região central do Estado do Ceará, no Nordeste do Brasil, acostumou-se a receber os melhores pilotos de voo livre do planeta e a testemunhar sucessivas quebras dos recordes nacionais e internacionais.
Em 2002, durante o campeonato internacional de voo livre em Quixadá, o piloto de asa delta Joel Rebbecchi, da Austrália, afirmou: “Este é o melhor lugar do mundo em que já voei.” A opinião dele é compartilhada por muitos dos mais capacitados pilotos do mundo. Realmente, as condições geográficas e climáticas do município o transformam num verdadeiro paraíso do voo livre. Mas toda história tem o seu início, e agora vamos conhecer como a história do voo livre começou em Quixadá.
COMO TUDO COMEÇOU
O Desbravador
A história do voo livre em Quixadá tem relação direta com a história de um pioneiro do esporte na região. Antônio Almeida é engenheiro de processamento na usina local de biodiesel da Petrobras e também empresário do ramo de hotelaria. Em 1989, ele fez seu primeiro voo de asa delta. A decolagem aconteceu na Serra do Maranguape, também no Ceará.
Depois daquele primeiro voo, Almeida não parou mais. Começou a procurar novos locais de voo no Estado e acabou inaugurando, em 1991, as rampas localizadas nos municípios de Baturité, Caucaia, Pacoti e Aratuba. Mas a melhor descoberta do desbravador do voo livre ainda estava por vir.
Ainda no ano de 1991, Almeida começou a viajar ao município de Quixadá em busca de locais promissores para a construção de outros pontos de decolagem. Mas aquelas primeiras viagens não foram nada animadoras, já que nenhum local foi encontrado. Em fevereiro de 1992, porém, tudo mudou.
Estrada Para a Descoberta
Em fevereiro de 1992, enquanto caminhava entre as elevações rochosas nas proximidades do Distrito de Juatama, em Quixadá, Almeida percebeu que uma estrada havia sido aberta dando acesso à Serra do Urucum. A Igreja Católica, então sob o comando de Dom Adélio Tomasim, estava empenhada na construção do Santuário Nossa Senhora Rainha do Sertão, como foi nomeado pelo eclesiástico. O Bispo havia ordenado a construção da estrada que levaria ao topo da elevação, onde as instalações do templo religioso seriam erguidas.
Almeida ainda não sabia, mas sua decisão de caminhar por aquela estrada resultaria na descoberta de um dos quatro melhores locais do planeta para a prática do voo livre, algo que ainda não havia sido percebido por ninguém.
Animado com o que viu ali, o desbravador solicitou permissão à Igreja para limpar um pequeno terreno, onde achou que poderia se tornar um excelente ponto de decolagens.
A autorização da igreja foi concedida e, em pouco tempo, uma área suficientemente grande para ser usada em uma decolagem de teste estava pronta.
Tocos de árvores, no entanto, ainda não haviam sido totalmente arrancados e não existia absolutamente nenhuma estrutura, além do simples chão de terra, que oferecesse algum suporte.
O Primeiro Voo
O primeiro voo de asa delta em Quixadá foi realizado por Antônio Almeida, em meados de março do ano de 1992, num terreno localizado na Serra do Urucum. A foto histórica a seguir registra o primeiro voo apenas alguns minutos depois da decolagem.
O resultado daquele voo de teste surpreendeu Almeida! Logo ele percebeu que ali havia algo diferente. Para entender este ponto, basta pensar num surfista. Em seu esporte, um surfista diria que havia encontrado a onda perfeita. Do mesmo modo, Almeida havia encontrado um lugar que reunia as condições ideais, perfeitas, para a prática do voo livre.
A partir da compreensão do potencial de Quixadá, Almeida começou a convidar pilotos amigos para usar o terreno de saltos na Serra do Urucum.
No início, como não havia a necessária estrutura, chegou a receber várias críticas, porém, não desistiu. Aos poucos, ele e outros pilotos foram explorando o uso do local e até criaram o campeonato Ceará Sem Roubada, que logo daria sua contribuição na quebra de recordes brasileiros e sul-americanos.
Em 1996, a rampa que está até hoje em uso na Serra do Urucum foi construída. Era o que faltava para que a prática do voo livre se transformasse na maior referência internacional do município de Quixadá, atraindo olhares dos pilotos de voo livre de todos os continentes.
Terra dos Recordes
Recordes nacionais, sul-americanos e até mundiais já foram quebrados várias vezes em Quixadá. Pilotos como Hélio Pires, André Wolf, Mailca Fernandes, Jeroen Servaes e André Fleury foram alguns dos que comemoraram recordes históricos em Quixadá no final da década de 1990. Nos anos que se seguiram, edições do campeonato X-Ceará e do campeonato mundial passaram a acontecer em Quixadá, e o município não parou mais de crescer no conceito dos praticantes do esporte. Hoje Quixadá é o lugar no mundo em que mais recordes foram quebrados.
Rampa com Grama Sintética
Em julho deste ano, o empresário Antônio Almeida construiu na Serra do Juá, no Distrito quixadaense de Juatama, a única rampa com grama sintética do Norte e Nordeste, e uma das poucas no mundo. O futuro ainda é promissor para os praticantes do esporte. Uma associação de voo livre foi criada e ela já formou alguns pilotos dentre jovens do próprio município.
De um pequeno começo, cheio de dúvidas e de desafios, Quixadá se agigantou como local perfeito para os voadores.
Antônio Almeida guarda com muito carinho farto material histórico detalhando tudo o que de mais importante aconteceu nestes 23 anos de voo livre em Quixadá. São dados sobre voos, pilotos, recordes quebrados, histórias contadas em jornais e revistas de circulação nacional e muitas reportagens de revistas especializadas nos quatro cantos do mundo, todas exaltando Quixadá como a “Meca do Voo Livre”, um paraíso onde os pilotos encontram “a onda perfeita” deste esporte.
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Por Gooldemberg Saraiva / Contato: (88) 99972-5179 / E-mail: bergsaraiva@gmail.com