As denúncias contra o prefeito de Quixadá e o efeito colateral sobre o parlamento

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Denúncia apresenta acusações de peculato, formação de quadrilha, fraude e outras condutas irregulares. (Foto: reprodução)

A denúncia contra o prefeito de Quixadá, João Hudson Bezerra, apresentada à Câmara Municipal nesta sexta-feira, 09, além de tudo a que se propõe, produz por lógica e consequência, independente de seus prováveis resultados, um efeito devastador sobre a reputação da própria casa legislativa e lança sérias dúvidas sobre a sinceridade de intenções dos seus edis. Explico.

As denúncias apresentadas são, essencialmente, do mesmo tipo e contém, praticamente, o mesmo conteúdo de outras já levadas para a consideração do parlamento local.

Como refresco à memória, vale lembrar que o Dr. André Clark Nunes Cavalcante, a Dra. Caroline Rodrigues Jucá P. Coutinho, e o Dr. Francisco Elnatan de Oliveira Júnior, todos representantes do Ministério Público Estadual – após meses de intensa investigação -, apresentaram aos vereadores uma peça acusatória que solicitava, inclusive, a cassação do chefe do executivo quixadaense.

Naquela época, o parlamento sequer aceitou ouvir o que os promotores tinham a dizer. Calados entraram no plenário, calados foram convidados a sair de lá. Praticamente todos lembram deste episódio inusitado.

Prefeito João da Sapataria 04 (Com a dorda no pescoço)

João Hudson, Prefeito de Quixadá, CE.

Às atuais denúncias, claro, acumulou-se novos fatos que não deixam de ser apresentados na peça de acusação. Estes, porém, não são de maior escopo ou mais significativos do que todos aqueles antes apresentados pelos Promotores de Justiça.

Assim, caso decida afastar o prefeito desta vez, a Câmara demonstrará de forma inequívoca algo que todos talvez já tenham entendido: os atuais componentes do legislativo quixadaense parecem fracos no exercício dos seus deveres, deixando-se moldar – mesmo à revelia de interesses essenciais da população -, por circunstâncias políticas e jogadas de interesse.

Denúncias de maior impacto do que as apresentadas hoje ou, no mínimo, da mesma gravidade, foram desconsideradas antes apenas porque, aparentemente, as configurações das mesas de situação e de oposição na Câmara eram diferentes das atuais. CPI’s foram aprovadas apenas para não servirem para nada. Outras sequer começaram a funcionar depois de aprovadas.

Não é de se admirar que muitos achem difícil, num cenário de tanta negligência, aceitar que, agora, tudo será tratado através de um padrão de excelência legislativa que, sabemos, simplesmente não existe em Quixadá.

Isto, obviamente, não significa que a denúncia não deva ser analisada. Denúncias contra agentes públicos, especialmente aqueles eleitos nas urnas, devem sempre ser tratadas com muita seriedade, e a elas se deve dedicar todo o tempo e recursos necessários para que todas as dúvidas relacionadas sejam exauridas. No entanto, caso aceitem fazê-lo, os vereadores não poderão afastar o efeito colateral de terem suas atuações anteriores questionadas. Por que não fizeram antes o que parecem querer fazer agora? Impossível não perguntar.

Por outro lado, caso se recusem a levar a análise das atuais acusações adiante, apenas confirmarão o modus operandi de uma legislatura que, prestes a chegar ao seu final, não tem muito – aliás, quase nada -, do que se orgulhar. Desta lógica e consequências colaterais, não importa o que decida agora em relação às denúncias mais recentes, a Câmara Municipal não poderá escapar. A arapuca foi armada e o engate de disparo acionado.

O vereador Ereni Tavares explicou na sessão desta sexta que a peça acusatória foi formulada, na verdade, por um grupo de advogados. Não disse quais ou a serviço de quem estavam. Disse, também, que outras pessoas foram convidadas a assiná-la e, por receios justificados, não o fizeram. Reconhecimento seja dado ao movimento certeiro de Jackson Perigoso. Quando aceitou assinar as acusações, colocou no canto da parede toda a gestão municipal e, numa tremenda arapuca, dezessete vereadores.




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