No que diz respeito aos relacionamentos humanos, algumas pessoas passam pela vida sentindo apenas o frio da superficialidade, sem nunca experimentarem o aconchego de um amor verdadeiro. Elas se conhecem, aproximam-se, namoram, trocam experiências e até se casam. Elas sorriem, dançam, cantam, viajam, realizam, alcançam sonhos! Mas não são poucas as que, não obstante tudo isto, sentem ainda que algo lhes falta.
É que, na verdade, não é tão fácil encontrar na longa estrada da vida aquele tilintar no peito que nos arrebata e que nos induz a vivenciar a plenitude da capacidade humana de doar-se inteiramente, em amor verdadeiro, a outra pessoa.
Não parece ser apenas uma questão limitada ao espectro do erotismo, da atração baseada em desejo carnal – curvas existem aos montes por aí! Realmente, você pode até encontrar momentos de grande prazer naquelas curvas ou naqueles músculos bem definidos, mas ainda sentir que o o tilintar no peito, aquele encontro de algo que evidentemente transcende a mera realidade física, enraizando-se nas sessões mais íntimas do nosso ser, ainda assim não acontece.
Penso que a dificuldade reside, em parte, no fato de sermos aborrecedora e tragicamente cegos e irresponsáveis quanto ao esforço para identifica-lo e valorizá-lo.
Pior do que isto, porém, é quando nós despertamos em alguém esta nobre grandeza e, depois, injustificadamente, não a valorizamos como as estatísticas da vida nos deveriam obrigar a valorizar.
De fato, desprezar a oportunidade de retribuir o tilintar no peito de alguém é uma atitude que carrega o potencial de nos condenar a vida inteira à superficialidade das convivências frias. Pode, inclusive, criar uma cicatriz feia em nossa história, entregando-nos à companhia dos que costumam ser descritos principalmente pelas evidências de tolice no transcurso da existência.
É por isto que, para o nosso próprio bem, deveríamos entender e respeitar a máxima originada da obra de Saint-Exupéry, que nos ensina a ser ‘eternamente responsáveis por aquilo que cativamos’.
Vale lembrar, também, que os amores verdadeiros nem sempre despertam no alvo a sua equivalência. Isto é da natureza da vida, e compreender tal conceito pode nos ajudar bastante a lidar com decepções e a continuar acreditando em nosso valor, não importa como nossos sentimentos venham a ser tratados.
Por outro lado, quando o tilintar no peito encontra em seu alvo outro igual, tornando-se ele próprio também um alvo, isto sim é praticamente um milagre! E milagres, estatisticamente falando, são raríssimos.
O que quero dizer é que tudo isto é como quando um florista dedicado encontra aquela florzinha que pela vida inteira ele havia procurado: ele pode amá-la pelos dias que lhe restarem, ou por qualquer tolice simplesmente estraga-la. A florzinha, por sua vez, tanto pode dar a ele do seu perfume, como espetá-lo com alguns de seus espinhos.
No âmbito dos relacionamentos, prevalecerá sempre o fato de que cada pessoa se comportará apenas de acordo com a própria natureza. Isto parece valer não apenas para os relacionamentos, mas para tudo o mais.
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Por Gooldemberg Saraiva / Contato: (88) 9 9972-5179 bergsaraiva@gmail.com
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