Temos visto, nas últimas décadas, um aumento substancial no número de organizações religiosas. Como assevera o historiador brasileiro Leandro Karnal, nossa sociedade hoje é surpreendentemente mais religiosa que aquela do final da década de 1950.
De fato, as cidades estão repletas de templos que se dedicam aos mais diversificados tipos de ministério. Todas disputando uma espécie de mercado da fé, tentando manter seus membros aglutinados em torno de suas propostas e todas trabalhando arduamente para que a concorrência não avance sobre seu terreno, ao mesmo tempo em que espremem-se umas sobre as outras em atividades que objetivam o crescimento contínuo das próprias fileiras.
Outro dia, enquanto tomava um cafezinho numa dessas boas padarias de Quixadá, não pude deixar de ficar impressionado quando a pessoa que estava comigo encontrou um amigo e perguntou como ele estava. A resposta do sujeito foi essa: “Tô bem. Botei uma igrejinha pra mim agora. Por enquanto ta dando certo.” Como não daria certo, não é mesmo? Mato ruim nasce e cresce até nas beiradas das calçadas.
Mas não quero, aqui, dedicar-me a explorar o tema da futilidade de se tornar um empresário da fé, nem da pouca serventia de se tornar cliente de uma dessas agências de comércio da crença e da esperança que, de posse dum CNPJ e de alvarás da prefeitura e do Corpo de Bombeiros, já tomam para si o direito de falar como se o próprio Jesus tivesse cumprido a promessa de voltar só para assinar a documentação no cartório.
Na verdade, o que penso ser a coisa mais grave é essa extrema valorização do envolvimento dos fiéis com as atividades e programas especiais de suas denominações, tarefas e rotinas que são encaradas como de valor superior e que ocupam a maior parte do tempo, condicionando os fiéis e os envolvendo num ambiente hermeticamente fechado, tornando-os incapazes de enxergar um palmo além daquilo que a própria organização religiosa lhes deixa ver.
O movimento todo de muitas lideranças religiosas é para tornar os fiéis cada vez mais envolvidos com a própria religião, dependentes delas, as vezes até mesmo dando a entender que, sem que o tempo, as energias, os dons e os recursos dos fiéis sejam usados na causa da instituição, a vida deles perderá muito de sentido.
Como nem todos podem dispensar o mesmo grau de envolvimento e a insistência no valor disto é persistente, muitos caem no isolamento e até em depressão, sendo tidos como ovelhas fracas simplesmente porque não se deixaram, por vontade própria ou força de circunstâncias, consumir completamente pela onda institucional da religião.
O comportamento destas igrejas, portanto, equivale a um seríssimo desvio de foco do valor de envolver-se com a pessoa de Jesus – centro incontestável da fé cristã – para a suposta importância do envolvimento religioso institucional, confundindo o próprio Jesus com estas estruturas.
Não é o caso de toda e qualquer atividade ou empenho dos fiéis em suas igrejas serem ruins. Esse envolvimento só se torna prejudicial quando é extremo, quando deixa pouco ou quase nenhum espaço para Jesus mesmo, isto é, para o exercício da fé nele, para o cultivo da dependência dele, para o desenvolvimento do caráter e das qualidades que produzem bem mais do que um milhão de horas de atividades religiosas – mais associadas ao marketing de grupo do que à devoção de coração -, e que até uma pessoa má, hipócrita e mentirosa poderia realizar.
Quando Pedro perguntou “Senhor, para quem iremos?”, na ocasião em que Jesus indagou se eles o abandonariam, é significativo que ele tenha dito “para quem” e não “para onde”, pois o cristianismo significa, de fato, fazer da pessoa de Jesus o centro da vida; não tem relação com tornar algum local ou instituição religiosa a base principal da fé, como se a aprovação diante de Cristo dependesse de se pertencer à igreja com o CNPJ correto. Creio que, no céu, a máquina de ler essa documentação ou o departamento de verificação de alvarás ainda não foram instalados. (João 6:68)
Tem Jesus uma organização exclusiva, na terra, que o representa? Sinceramente, tenho minha crença particular sobre isto, mas hoje não me sinto no direito de fazer apontamentos, muito menos de dar a entender que alguém é aprovado por pertencer a certa igreja ou desaprovado por não fazer parte dela.
Parece-me que a promessa do Cristo foi de que ele estaria, desde sua ressurreição até o final dos tempos, com os seus seguidores. Ele não esperaria, como que de braços cruzados, até uma época mais recente, para retomar o cuidado sobre os seus. Ele sempre conheceu os que lhe pertencem, sempre dedicou a eles seu cuidado, direção e amor. E onde estiveram dois ou três reunidos em seu nome, ali esteve ele no meio deles. Em muitas destas ocasiões, no decorrer dos últimos dois milênios, algumas das igrejas que hoje se gabam de possuir os direitos e a autoridade daquele a quem deveriam representar, sequer existiam. (Mateus 28:20; 2 Timóteo 2:19; Mateus 18:20) Assim, ao que me parece, a Igreja ou Congregação de Cristo é mais mística e superior em formato e composição do que supomos.
Nesta semana em que muitos voltam sua atenção para a morte e ressurreição de Jesus, minha intenção é aproveitar para incentivar um desvio de foco de cada um, retirando-o das Igrejas e direcionando-o a Cristo, como ele merece e como deve ser. Faço-o com todo respeito possível pelas instituições religiosas, embora as ache, na maioria dos casos, mais um estorvo, um empecilho, para o crescimento espiritual do que o contrário.
#MenosReligião #MaisJesus
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É uma pena que o autor direcione seus leitores para pensarem de uma maneira confortável, livre e sem problemas de consciência. A ideia apresentada, justifique-se caso eu esteja errado, é direcionar a mensagem aos incautos que tateiam pela espiritualidade, mas são vítimas de “falsos profetas”. Uma ideia ainda mais original e singela seria a de imitar a Jesus. Simplesmente imitar. A verdade, meu caro escritor, é que ninguém solidifica sua fé sem uma base, sem um incentivo, sem uma boa associação, sem um interesse, sem um treinamento, sem um estudo cabal, etc.. E onde você encontra essa estrutura? A resposta parece óbvia: Na religião! Até os próprios discípulos de Cristo precisavam de orientações e de uma estrutura, e nós meros mortais, não? Parece equivocado esse seu pensamento, mas entendo que ele coaduna com a maioria.Num mundo onde o certo ficou errado, a tendência é tratarmos cada vez mais Jesus como um emblema, um símbolo, uma entidade(como sugere o autor), um deus. O esperado, amigo escritor, aconteceu: A quantidade de religiões aumentou. A fé do povo que poderia ter aumentado, esfriou. As pessoas justificam sua não religiosidade pela canalhice de seus membros e líderes que insistem em pregar aquilo que não fazem. Elas, inclusive, citam Jesus, para justificar seus direcionamentos, suas ideologias, suas teses, sua escolha sexual – apenas por dizer: Eu amo o próximo! A questão me parece bem mais complexa do que a escolha de uma religião. Envolve o conhecimento dela através de um embasamento teórico. Não me sinto confortável lembrar de jesus no sofá da minha casa sem ter a mínima motivação de imitá-lo. Obviamente, a religião está um caos, mas insisto em minha tese que lá é onde posso renovar o meu apego, a minha conduta, a minha fidelidade, relembrar os ensinamentos do nosso grande instrutor, Jesus!
Existe Jesus sem religião e existe religião sem Jesus.
Não existe Jesus sem religião e nem religião sem Jesus, o problema é que muitas dessas religiões, pregam doutrinas diferentes daquela que Jesus nos ensinou e também alguns membros infiltrados em certas denominações religiosas, visam somentes seus interesses e se aproveitam da boa fé das pessoas..