Por Amadeu Filho
Quero fazer minha caminhada nas tuas praças, meu Quixadá querido, à tardinha, me deliciando com a sinfonia de pardais, regida pelas batidas dos sinos de Jesus, Maria e José.
Nas doces manhãs, como nos tempos de infância, ir até o açude do Cedro e bem acompanhado de pessoas ricas e pobres, todas andando a pé, sem nenhum medo, sentindo o aroma vindo de dentro dos quintais das casas, bem próximas a estrada de acesso. Cada pessoa que cruzar nosso caminho, é como se fosse um antigo conhecido e o respeito ,de um para com outro, deverá ter um valor enorme.
Nas tuas noites, cidade amada, quero gastar minha vida de aposentado e, novamente, frequentar os bancos de tuas praças, cercado de velhos e preciosos amigos e, juntos, lembrar daquela paz e grande alegria, ao ouvir as apaixonadas canções vindas da radiadora do Mestre Adolfo, quando oferecíamos música para a namorada que ainda estava para chegar.
Absorver um pouco da energia das crianças e adolescentes, fazendo da vida um eterno canto de amor ao se deliciarem com os alegres bate papos nos modernos equipamentos de comunicação.
Olhando-os, transporto-me ao tempo em que, na praça José de Barros, sentia-me um verdadeiro campeão nas disputas pelas meninas mais bonitas do lugar. Tudo num clima de uma paz que parecia infinita. Talvez, naquele momento, visitávamos o céu, sem ninguém a nos incomodar, a estragar nossa contagiante alegria. Parecia que todos eram de uma mesma família.
Temos uma vontade enorme de, novamente, depois da missa celebrada na Catedral, ficar na praça José Linhares da Páscoa (antiga Dr. Revy), jogando conversa fora com os amigos e fazer promessas de amor para jovens, em flor. Nós, os rapazes, vibrávamos com as missas celebradas pelo santo Padre Bezerra, pois elas tinham pouca duração. Ora, queríamos era estar na companhia dos amigos e das tão sonhadas princesas quixadaenses.
Como era doce a vida naquele Quixadá que já não existe mais! Que cidade bela, cheia de tanta paz, tão pequena ainda, mas onde a vida explodia de tantas alegrias, de sonhos, emoções, ternuras, linda paz, pessoas com coração de criança.
Gostaria de voltar a frequentar os bancos escolares, ir para a Faculdade, sem medo algum. Como eram felizes os tempos do Colégio Estadual, quando discutíamos Chacal, Torquato Neto, Janis Joplin e Beatles, com pessoas da mesma idade. Além dos livros, portávamos uma velha radiola “Philips” e ,depois das aulas, íamos promover seresta para as mais lindas meninas da nossa rua.
Nunca, em momento algum, alguém se apossou de nossas coisas e perturbou nossos momentos de gozo juvenil. Sem nenhum temor, ficávamos até tarde da noite, só chegando em casa na hora em que os galos começavam a exibir seus cantos com poses de cantores de ópera. Nossos pais nos esperavam com preocupação, mas sabiam que nós voltávamos. Hoje, eles têm essa certeza?
Novamente, quero vibrar com as jogadas do meu Quixadá Futebol Clube, ir ao “Abilhão”, sem nenhum temor, acompanhado de meus filhos, amigos e, como em anos já idos, vibrar à cada gol do canarinho, tal qual nos tempos de Zé Leônidas (nosso Pelé), admirar o futebol clássico de Everton Ribeiro, aplaudir as defesas do goleiro Mafia e bater palmas à raça do zagueiro Vagalume.
Que vontade de curtir a noite quixadaense, me alimentar de felicidade ao participar das serestas e sonhar ouvindo a voz do seresteiro Ronaldo Miguez e, certamente, desejando a volta de um grande amor (talvez, nem existiu). Me divertir, dançar, como se ouvisse o som dos teclados de Dudu Viana, a voz encantadora do astro Zé Maria Ferreira e até cair no salão dançando ao ritmo quente da Black Banda.
Ligar o rádio e ouvir programas jornalísticos divulgando boas notícias e não o ódio entre irmãos, como nos tempos da “Rádio Uirapuru”, quando não era divulgada uma notícia sequer de algum fato relacionado a violência. Depois do “jornal falado”, íamos nos deleitar com as canções bregas do programa do Sinval Carlos. Era ou não um belo Quixadá?
Quero, ainda, colocar a cadeira na calçada, em especial, na poética rua do prado (Tenente Cravo), juntar amigos e ficar contemplando a deusa das serenatas (lua bonita), como acontecia há alguns anos atrás. Com certeza, ouvir as estórias que eram contadas por Zé Laranjeiras, Capacidade, Dodinha, Inacinha, Vicente Padeiro. Me sentir bem feliz ao ouvir o cavaquinho de Mário Bertoldo e as mensagens musicais dos alto falantes de Zé dos Santos. Algumas vezes, deixando a seriedade de lado e tomando uns poucos traguinhos no bar do Apulco que colocava na velha vitrola, apaixonadas canções de Nelson Gonçalves. E ninguém incomodava ou tirava a nossa paz!
Como gostaria de participar das festas joaninas da minha cidade, sem medo algum de uma possível violência. Vibrar de alegria, tal qual acontecia na marcação das quadrilhas por Zé Pereira. Como era gostoso o seu francês de mentirinha!
No período do carnaval, queria sair por aí cantando “Mamãe, eu quero mamar!” e sem ter hora para voltar ao lar. Tenho uma vontade imensa de assistir filmes nos modernos cinemas da cidade, como nos tempos do “Cine Yara”, quando, depois da exibição dos filmes, continuávamos as rir com as peraltices de Oscarito e Grande Otelo. Nós, os rapazes, à noite, sonhávamos com as pernas da Jane do Tarzan. Será que os bons tempos de paz não voltarão a fazer parte da vida dos quixadaenses?
Queremos caminhar por todos os distritos desta terra e, como no sertão de antigamente, pedir a volta da asa branca. Para nós, não há dúvidas, é a cidade mais linda que nossos olhos já viram! Não há outra no mundo mais bela! Apesar da paz perdida (Não é por todo o sempre), é aqui que queremos criar nossos filhos, vê-los crescer, pisar firme, enaltecer a vida, dá exemplos de bondade, de solidariedade, promoverem a paz.
Só assim, veremos surgir na abençoada terra dos monólitos um novo tempo de conquistas, onde todos vivam em permanente e fraterna convivência. É possível sonhar com este novo Quixadá? É claro que sim! E se sonharmos juntos, acreditar juntos, bem melhor ainda!
As nossas preces já chegaram até Deus pai pelos nossos irmãos que, hoje, gozam de sua companhia. Eles, assim como nós, nos amam e também desejam uma cidade onde todos convivam como irmãos, filhos de um mesmo pai amoroso. Que Jesus, Maria e José abençoem os filhos desta terra, os que estão aqui e na pátria celestial.
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