Monólitos Post

Ilário Marques é o prefeito eleito de Quixadá. Ele foi indiscutivelmente o escolhido nas urnas.

Ricardo Silveira, apesar de não ter logrado êxito total em sua primeira disputa direta, consolidou-se – com seus mais de 19 mil votos nada desprezíveis -, como liderança que, sem dúvida, ainda poderá afetar muito a história política que se desenhará no município.

Como em todo pleito eleitoral, a sociedade falou e sua mensagem deve ser analisada, o que pode ser proveitoso para todos.

VENCEU A DÚVIDA 

Indiscutivelmente, a grande vencedora foi a dúvida. João Hudson foi tido, em 2012, como o candidato da renovação e da mudança na política em Quixadá. Venceu com uma margem de votos extraordinária, mas fez uma péssima gestão. O que se viu de 2013 até 2016, respeitando-se os aspectos positivos que alguém talvez possa apontar, foi caos na saúde, epidemia, escândalos, denúncias, atrasos no pagamento de salários, afastamento e trocas constantes de secretários. O próprio João está agora afastado do cargo e com poucas chances de reavê-lo antes do final do mandato. Diz o ditado que “gato escaldado tem medo de água fria”. Nesta eleição, o povo mostrou que também pode ser assim.

Ricardo Silveira apresentou uma mensagem de política diferente e melhor, termos costumeiramente usados em suas manifestações. Analisando friamente, a maioria dos quixadaenses talvez até tenha gostado da proposta, mas preferiu não optar por ela. E, ao fazê-lo, mostrou, também, que ainda sente alguma segurança com os políticos de carreira ou, noutros termos, mostrou que prefere a certeza do básico e do trato historicamente eleitoreiro que lhe é dispensado, a acreditar em uma novidade.

Renovação na política só pode vir do povo, mas em Quixadá o povo não quis isto desta vez. Seria irresponsável dizer que, agora, não deveria também reclamar se o trato que lhe é dado pelas forças eleitas continuar o mesmo ou até pior. A cobrança sempre deve ser feita. Sempre. Na outra ponta, é inteligente que os eleitos se mostrem dignos e, de fato, melhorem suas atuações.

A frase “Ilário é o novo de novo” trata-se apenas de um recurso de campanha. Ilário cresceu e envelheceu na política de Quixadá, assim como seu principal apoiador local nesta disputa, Osmar Baquit. Ele não é a renovação, mas não há o que discutir quanto ao seu mérito de oferecer a segurança suficiente exigida para se ganhar a eleição no contexto de uma experiência tão negativa quanto a última tentativa de renovar.

O que mais justifica este entendimento e mais explica o sentimento de dependência de políticos de carreira, bem como a aposta na dúvida da renovação, porém, é a expressão “o papai voltou!”, usada por boa parte dos eleitores. Excetuando-se alguns casos episódicos, a relação política do povo com seus governantes passa é longe de uma relação familiar, como a de um pai e seus filhos. Maquiavel que o diga. Em Quixadá, especialmente, o livro “O Príncipe”, de autoria dele, deveria ser estudado a partir das primeiras séries. Talvez assim a próxima geração entendesse o que fizeram com seus pais.

OS RESULTADOS

A vitória de Ilário nas urnas foi significativamente grande e é reflexo, além do contexto já exposto acima, de outros fatores:

(1) o apoio ao PT municipal, oferecido pelo Deputado Osmar Baquit, que mantém sob seu controle vereadores e outras lideranças com expressiva capacidade de captação de votos;

(2) o posicionamento adotado pelo prefeito Wellington Xavier, o Cí, que declinou de suas crenças pessoais e atuação histórica para permitir que a companhia da máquina pública municipal, sob seu comando, fosse dada à campanha petista;

(3) o peso da experiência no jogo das disputas eleitorais e da capacidade de articulação local dos dois parlamentares estaduais, tidos como representantes quixadaenses, Osmar e Rachel Marques;

(4) o peso da experiência no jogo das disputas eleitorais do candidato petista, Ilário Marques;

(5) desigualdade financeira, com a campanha petista tendo evidentemente mais bala na agulha para usar, o que de fato ficou comprovado nos dados disponibilizados pelo TRE.

Todos estes fatores se contrapuseram ao fato do candidato Ricardo Silveira estar em sua primeira disputa e num contexto totalmente desvantajoso para a opção que tentou representar renovação política. Ainda assim, contra tudo isto, é bom lembrar, sua votação foi praticamente a mesma obtida por Ilário Marques em 2012. Um feito significativo que lhe dá espaço para crescer muito.

O FUTURO

Que seja melhor do que o passado, claro. O povo quixadaense tem experimentado dias difíceis. Precisa, como nunca antes, do empenho sério das suas lideranças.

Tenho minhas dúvidas quanto à solidez da união entre os grupos de Osmar Baquit e de Ilário Marques. Há um histórico significativo de antagonismo entre eles para ter sido superado de última hora. Recursos de campanha do tipo que usa mantras tais como “paz, amor e unidade” não são suficientes para me convencer. Mas respeito qualquer esforço conjunto a favor do povo. Torço que se eles conseguirem provar sua união, façam diferente, bem diferente mesmo, do que fizeram separados. Quixadá não merece o básico que lhe tem sido dado em períodos bem específicos, os períodos eleitorais.

Após ser diplomado, Ilário receberá uma prefeitura falida. Terá que fazer obrigatória contenção de gastos. Demitir pessoal, até para se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal – insistentemente violada nos últimos anos -, será um caminho provavelmente adotado. Nos bastidores, também há relatos de que já se iniciou um esforço político concentrado para anular o concurso público, o que facilitaria, no aspecto financeiro, a situação do próximo gestor.

Haverá, também, nos próximos meses, a escolha do secretariado, o que poderá ser revelador quanto ao tipo de política que Ilário tem em mente para os próximos anos. É cedo para conjecturas.

Camilo Santana, por sua vez, tem sido um governador fraco demais para Quixadá. Evidentemente, muito da sua atuação medíocre se deve à situação política. Depois que a prefeitura foi parar nas mãos de seus aliados, algumas ações e obras começaram a aparecer. Este é o trato desonroso, tipicamente eleitoreiro, oferecido aos quixadaenses. Mas, de qualquer forma, a torcida é que o governo estadual crie vergonha e demonstre mais respeito à nossa gente.

OPOSIÇÃO

Oposição inteligente se faz a grupos políticos, nunca ao povo. Assim, é importante que a oposição entenda que suas próximas ações devem ser, não meramente contra tudo o que for feito pela outra parte, mas contra tudo o que entender ser prejudicial à coletividade. Se posso falar pelo que conheci de perto do Dr. Ricardo Silveira nos últimos três anos, é exatamente uma oposição responsável com sua gente, propositiva e eficientemente fiscalizadora que ele pretende liderar.

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Por Gooldemberg Saraiva

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