Nestes últimos anos, o Ministério Público do Estado do Ceará tem atuado com muita força para tentar coibir as práticas ilícitas de vários políticos quixadaenses. A corrupção no município de Quixadá começou a ser revelada na Operação “Fiel da Balança”, que levou ao afastamento do prefeito Ilário Marques (PT), que, de acordo com o órgão, comandava um esquema de propina oriundo dos serviços de coleta de lixo na Terra dos Monólitos. Já a Operação “Casa de Palha”, que foi deflagrada em abril do ano passado, investiga a existência de crimes de fraudes em licitações, dentre outros ilícitos, na Prefeitura e na Câmara Municipal de Quixadá.
Agora, o Monólitos Post teve acesso, com exclusividade, a uma investigação do MPCE que mira os irmãos Rosa e Airton Buriti, a dupla é considerada de extrema confiança de Ilário Marques.
De acordo com documentos obtidos pela reportagem, uma minuciosa investigação tramita na Promotoria de Justiça do Juizado Especial Cível e Criminal de Quixadá visando apurar indícios de um esquema de fraude em licitações no Executivo e no Legislativo deste município. No Inquérito Civil nº 2016/374356, os investigados são os irmãos Airton Buriti Lima e Maria Rosilene Buriti Lima e, ainda, Maria Edi Leal da Cruz Macêdo, todos eles eram agentes públicos e filiados ao PT na época dos fatos. Além de fraude em licitações, documentos apontam também a prática de ocultação de bens.
Segundo o inquérito, os ex-presidentes da Câmara Municipal de Quixadá Airton Buriti e Edi Leal são investigados em razão de contratos de publicidade com indícios de superfaturamento e por realizarem pagamentos paralelos, com o mesmo objeto, a uma pessoa física que seria o suposto dono da empresa vencedora do contrato de publicidade com o Poder Legislativo na época. Logo, de acordo o inquérito, a câmara pagava a empresa como pessoa jurídica e também ao possível proprietário, como pessoa física, para realizem o mesmo serviço.
Nesse caso específico, os fatos denunciados são totalmente inusitados porque a Câmara Municipal pagava a empresa vencedora da licitação, mas pagava também ao proprietário da empresa, sendo que ambos realizavam a prestação de serviço. Foram anexados ao inquérito documentos comprovando os pagamentos, bem como documentos indicando que o empresário assinou a licitação como representante da empresa. Outros contratos referentes a mais serviços suspeitos e realizados no mesmo período também foram denunciados.
Na investigação, o representante do Ministério Público classificou os fatos como ilícitos graves e o procedimento já conta com mais de mil páginas de documentos. Consta no inquérito a informação de que os investigados teriam mais bens do que os declarados na Justiça Eleitoral, o que motivou o promotor de justiça a determinar a remessa de parte do inquérito para a Promotoria Eleitoral a fim de apurar supostos ilícitos penais relacionados à falsa declaração de bens perante a Justiça Eleitoral.
De acordo com documento anexado aos autos, na declaração de bens de Airton Buriti, realizada em 2012, constam duas fazendas, várias dezenas de cabeças de gado, três automóveis e duas casas residenciais. Ainda de acordo com a denúncia, há indícios de que um dos investigados teria ocultado na declaração de bens um apartamento localizado no bairro Aldeota, um dos mais caros de Fortaleza.
No caso da investigada Rosa Buriti, a denúncia relaciona-se com o período em que a mesma esteve a frente da Secretaria de Assistência Social do município de Quixadá, em 2009. De acordo com os fatos, a ex-secretária teve as suas contas de gestão julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas, com a aplicação de multa no valor de R$ 12.769,20 e de nota de improbidade, em decorrência de irregularidades em licitações e da má aplicação dos recursos públicos do Fundo Municipal de Assistência Social.
Procurada pela reportagem, a vereadora Rosa Buriti disse que ainda não havia tomado conhecimento sobre as investigações do Ministério Público. Já o secretário Airton Buriti não atendeu nenhuma das ligações.
Na atual gestão, Airton Buriti foi nomeado pelo prefeito IIário Marques (PT) para comandar o Fundo Municipal de Assistência Social que antes já teve a sua irmã como gestora. Hoje, Rosa Buriti é vereadora e chegou a defender e votar contra o afastamento do presidente da Câmara, Ivan Construções (PT), que é acusado de participar do esquema criminoso no Poder Legislativo, sendo, inclusive, preso e encontrando-se em liberdade com o uso de tornozeleira eletrônica por conta das investigações decorrentes da Operação “Casa de Palha”.