Projeto do Hospital Regional do Sertão Central previne infecções pós-cirúrgicas

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Infecções de Sítio Cirúrgico, conhecidas pela sigla ISC, são aquelas que ocorrem como complicação de uma cirurgia, comprometendo a incisão, tecidos, órgãos ou cavidades manipuladas. Para evitar que os pacientes sejam atingidos pelas ISCs, o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), lançou o projeto “De Olho na Ferida”. O objetivo é acompanhar a cicatrização de ferimentos operatórios dos pacientes que já estão em domicílio e antecipar as consultas de retorno, caso haja necessidade.

O coordenador de Enfermagem do Centro Cirúrgico Geral, Daniel Rodrigues, explica que a ação surgiu como um desdobramento do projeto “Infecção Zero”, do Centro Cirúrgico Geral do HRSC. “Nós analisamos variáveis a fim de mitigar situações que possam desenvolver à ISC. Contudo, alguns pontos fugiam do processo cirúrgico e precisavam ser acompanhados, como o cuidado com a ferida operatória em domicílio”.

O projeto realiza a busca ativa por meio de contato telefônico com pacientes que fizeram procedimentos cirúrgicos classificados como “limpos”, após sétimo dia da alta hospitalar. O projeto conta também com um tablet que possibilita ligação por WhatsApp. A equipe investiga pontos que vão desde a alta esclarecida até a sintomatologia apresentada, como cor da pele ao redor da incisão, tipo de secreção, febre, dor em incisão operatória e sua abertura.

“Quando verificado, junto ao paciente, algum marcador crítico como ferida aberta ou secreção purulenta, mesmo que isoladamente, o auxiliar administrativo sinaliza a necessidade de antecipação da consulta. Do mesmo modo ocorre se encontrados inchaço e vermelhidão, presença de secreção serosa ou hemática, febre e dor no local da incisão”, pontua Rodrigues.

Bem-estar do paciente

Segundo Warley Feitosa, auxiliar administrativo responsável pelo contato com os pacientes, é emocionante perceber, na fala do usuário, seu contentamento em ser questionado quanto ao bem-estar. “Sempre me deparo com a mesma pergunta: ‘vocês estão ligando para saber como eu estou? Que maravilha!’”, diz o colaborador.

Francisco Vitor Lima de Oliveira, de 26 anos, é um dos usuários assistidos atualmente pelo projeto. Trabalhador da área de restaurante, ele precisou realizar uma cirurgia depois de fraturar o pé. Em recuperação domiciliar, voltou ao hospital para avaliar a cicatrização da cirurgia. “A pessoa é bem tratada aqui e o atendimento é bom. Eles ligaram para saber como eu estava. Contei que estava achando a cirurgia inflamada depois que um primo pisou sem querer no meu pé e me pediram para retornar”, afirma Oliveira.

Antecipação de consultas

Os dados obtidos pelo acompanhamento telefônico são trabalhados em uma planilha e compartilhados com diversos setores, como Serviço de Controle e Infecção Hospitalar (SCIH), clínicas cirúrgicas, serviço de Estomaterapia e Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC). Percebida a necessidade de antecipação de retorno da consulta, o NAC realiza novo agendamento e contato telefônico. O serviço de Estomaterapia, também especificado na planilha, acompanha a data de retorno desse usuário e realiza o acolhimento nesse primeiro atendimento pós-procedimento para a definição de ISC.

“O acompanhamento extra-hospitalar impacta de forma positiva no resultado do trabalho, pois oportunizamos o retorno de pacientes que poderiam desenvolver ISC ou complicações mais graves. Passamos a observar que junto ao projeto ‘Infecção Zero’ no CCG, tivemos uma diminuição no número de ISC em cirurgias limpas”, observa Rodrigues.

Para a Coordenadora do Ambulatório/Imagem e Transporte, Janina Falcão, o retorno antecipado pela necessidade do usuário com o atendimento inicial via o enfermeiro especialista em ferida é algo único na região. Já a coordenadora do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt) e responsável pelo projeto “HRSC na Comunidade”, Katylla Queiroz, relata que a temática fará parte das informações apresentadas na rede de saúde, unidades básicas, programas de rádio e população local, a fim de alertar o paciente sobre seu cuidado.

Resultados

No primeiro trimestre de 2021, somente 60% dos pacientes foram localizados. Destes, 89% relataram ter tido informações sobre os cuidados com a ferida operatória na alta88% relataram ter entendido sobre as informações repassadas e 11% apresentaram sintomatologia que sinalizaram antecipação de retornos pós-procedimento cirúrgico.

Dos pacientes que retornaram antecipadamente, somente 1% apresentou de fato ISC. O resultado apresenta uma projeção de melhoria, mantendo-se abaixo da meta permitida, de 2%.




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