ATENÇÃO: O texto a seguir contém expressões proferidas por torcedores durante a Copa e que podem ser consideradas por alguns como de baixo calão. Queira considerar isto antes de prosseguir com a leitura.
Por Jards Nobre
Segundo pesquisa publicada na Folha de São Paulo, os países vizinhos ao Brasil, nossos “hermanos sudamericanos”, torceram em massa contra nosso país na Copa 2014, o que tem revoltado alguns brasileiros, sobretudo os que torceram fervorosamente contra a Argentina.
Logicamente, em se tratando de campeonatos, as equipes participantes, que também querem ser o grande campeão, normalmente torcem contra o time que está na frente em número de título – é a velha inveja.
Mas por que nós, brasileiros, haveríamos de nos aborrecer ou de nos admirar com a torcida contra dos nossos vizinhos?
São países pouco civilizados, marcados por uma história triste, de hostilidade, massacres, genocídios, ditaduras, guerrilhas, ganância. Compartilham conosco muitos pontos em comum na triste história da humanidade rumo a um grau mais alto de civilização. E, justamente por isso, acho que deveríamos sair deste círculo vicioso.
Não admiramos tanto a educação e a superioridade alemãs? É “pagando na mesma moeda”, retribuindo baixaria com baixaria que subiremos em civilização? Acho que não. E não achemos que nós, brasileiros, somos as vítimas, porque não somos. Somos (digo “somos” porque sou brasileiro também) mal-educados, zombeteiros, preconceituosos, xingadores iguais ou mais do que nossos vizinhos!
Exemplos de desrespeito e falta de educação não faltaram nesta Copa. Mandamos a autoridade máxima do país, uma senhora, tomar no cu (Por que não dizer aqui claramente aquilo que foi expresso em coro para o mundo todo ouvir?); vaiamos um jogador da nossa seleção e o mandamos também tomar no cu.Vaiamos o hino dos chilenos; pusemos no ar comerciais gozando dos argentinos, dos ingleses. E depois reclamamos do comportamento dos outros.
Em minha humilde opinião, se quisermos ser vistos com mais simpatia – parecida com aquela com que hoje vemos a Alemanha – teremos de nos portar diferente do modo como nos portamos hoje. Barraco, baixaria, vaia, quebra-quebra, insultos, provocações, tudo isso é coisa de gentinha. Torci Argentina. Porque a Alemanha já tinha três títulos, porque sou latino-americano e, principalmente, porque não olho para os argentinos como rivais. Se eles nos olham assim, lamento.
Mas não lamentei a Alemanha ter ganhado. Foram melhores e, acima de tudo, deram uma grande lição ao mundo: a da perseverança, da disciplina e do planejamento para se atingir aquilo que se deseja. Infelizmente, preferimos seguir os maus exemplos.
—///—
Sobre o autor: Jards Nobre é romancista, autor dos livros “Curral de Pedras” e “Pássaros sem canção” e ocupa a cadeira de número 12 na Academia Quixadaense de Letras.



Parabéns pelo belo comentário.Semelhante aos textos escritos por JAIME ARANTES.Um grande abraço.