Garotas realizam experiências e constatam: “Preconceito racial é forte no comércio de Quixadá”

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Um grupo de jovens quixadaenses, todas do sexo feminino, fizeram contato gq49com o Monólitos Post para relatar uma experiência interessante que realizaram no comércio de Quixadá no decorrer dos últimos três meses.

O grupo, composto por sete meninas com idade entre 18 e 22 anos, das quais quatro são negras e três de pele branca, tiveram a ideia de realizar a experiência após uma longa conversa sobre preconceito. Todas elas conheciam ou já haviam passado por experiências desagradáveis no comércio de Quixadá por causa da cor da pele.

Nos últimos três meses, elas simularam interesse em comprar roupas, jóias, perfumes, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis. Também testaram o comércio de serviços em lanchonetes, pastelarias e hotéis.

De acordo com elas, é possível perceber enorme diferença na disposição dos atendentes, vendedores e gerentes ao lidarem com garotas negras e brancas.

“Numa loja, simulamos interesse em comprar uma geladeira. Na minha vez, que sou branca, não houve demora para o vendedor demonstrar interesse e se dirigir até mim. Eu pedi para verificar o plano de pagamentos da geladeira mais cara em exibição e não houve nenhuma dificuldade. Na vez da minha amiga, que é negra, notamos que os vendedores não apenas demoraram para se dirigir até ela, mas também demonstraram desgosto em fazê-lo. Quando ela pediu para o vendedor elaborar o plano de pagamentos da geladeira mais cara, em vez de prontamente fazer isso ele pediu que ela verificasse uma mais em conta. Entendemos que ele supôs que, por ela ser negra, era também pobre. Isso não é só deselegância, é preconceito”, afirmou uma delas.

De acordo com elas, o mesmo comportamento se repetiu por parte de vendedores e atendentes de estabelecimentos, sempre tentando jogar as meninas negras para produtos mais baratos, como se achassem que negros não pudessem pagar por produtos melhores. Num determinado estabelecimento hoteleiro, uma garota negra pediu um quarto com cama de casal e ar-condicionado. Os preços foram repassados, mas vieram junto com o lembrete de que havia à disposição quartos mais baratos, inclusive só com ventilador. O mesmo não ocorreu com as garotas de pele branca.

Noutro caso, o gerente de uma loja de móveis e eletrônicos atendeu sem problemas uma das garotas brancas, explicando-lhe detalhadamente o funcionamento do serviço de entregas do estabelecimento. Quando uma garota negra tentou conversar, momentos depois, sobre outro serviço da loja, foi direcionada para conversar com um funcionário subalterno.

“Os mesmos comportamentos se repetiram tantas vezes, criando um padrão tão fácil de ser percebido, que não podem ser simples coincidências. Nosso comércio é preconceituoso, talvez porque toda a nossa sociedade ainda tenha muito preconceito”, lamentou uma das garotas.

“Sentir um olhar de desinteresse, ouvir a pessoa lhe direcionando para produtos de menos qualidade, como se a cor de sua pele devesse necessariamente determinar sua condição social, é algo realmente ruim de ser experimentado”, diz outra garota.

“Durante os testes, estávamos bem vestidas, asseadas e até cheirosas, mas a única coisa que determinou a maneira como fomos recepcionadas foi a cor da nossa pele”, desabafa outra.

“Essa experiência com certeza não possui rigor científico, apenas tentamos reproduzir situações normais do cotidiano, mas foi suficiente para constatar o imenso e desprezível preconceito presente em nosso comércio. Fizemos anotações, tentamos verificar padrões, anotamos muitos dados interessantes. Infelizmente, nossos pais não quiseram que nossos nomes fossem divulgados, mas ainda pretendemos aprofundar nosso trabalho sobre o tema e apresentá-lo com mais peso”, explica uma garota branca.

PRECONCEITO É CRIME

De acordo com a Lei N° 9.459: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, e ainda: “Praticar, induzir, ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A pena é de um a três anos de reclusão e multa. Ou seja, preconceito, além de deselegante, estúpido e indiscutivelmente inapropriado sob quaisquer circunstâncias, é crime!




Comentários

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  1. Gostei da iniciativa destas jovens, o que poderá se transformar em objeto de análise e estudo por parte de técnicos especializados. O ideal seria relacionar os nomes e endereços das lojas visitadas. Seria uma forma de alertar os comerciantes para esse crime de preconceito.

  2. – PRECONCEITO(AVALIACAO PRA BAIXO),VIOLENCIA, INDIVIDUALIZAR TODA ACAO NA VIDA, DAR VALOR E ATENCAO PARA PESSOAS QUE SE APRESENTEM MUITO BEM VESTIDAS, EMBORA NAO SAIBA QUE TRABALHO AQUELA PESSOA ESTAVA REALIZANDO, SAO SEM SOMBRA DE DUVIDAS, FRUTO DO BAIXO NIVEL ESCOLAR E EDUCACIONAL DE NOSSA JUVENTUDE. . . A CRIANCA AO NASCER E UM LIVRO EM BRANCO; NOS ADULTOS E QUE LHE ENSINAMOS A ESCREVE-LO, PELO VISTO, MUITO MAL ESCRITO !!

  3. É um absurdo ninguém sabe nem que cor é DEUS!!!

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