Cheiro de repressão no Ceará

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Depois de publicar matéria informando acerca de uma discussão entre Ciro Gomes e Camilo Santana, após a qual Camilo teria ameaçado renunciar à candidatura, o Blog do Jornalista Roberto Moreira, embutido no corpo de ferramentas do Diário do Nordeste, foi desativado.

Não está claro o que realmente aconteceu. Ainda não é possível, por exemplo, apontar qualquer pressão por parte de agentes do governo sobre o Sistema Verdes Mares, assim como não é possível afirmar que tal pressão não existiu.

A avaliação do caso não exige, necessariamente, a aplicação do famoso princípio “inocente até que se prove o contrário”. Um pouco de discernimento já ajuda a entender o que está, de fato, acontecendo no Ceará. Episódios recentes não deixam dúvidas de que o estado que é berço do melhor humor nacional tem expelido um cheiro pútrido característico dos tempos de repressão.

Para começar, o regime liderado pelo Governador Cid Ferreira Gomes usou juízo de piso para praticar censura prévia à revista IstoÉ.

A revista nem sequer fazia ilações novas sobre o político, limitando-se a dizer que o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, havia citado o nome do líder do regime em seu depoimento à Polícia Federal, sem mencionar qualquer contexto para a citação e sem acusar Cid de qualquer crime. Mesmo assim, o pecado foi considerado grande demais e o regime de Cid partiu para a censura.  O líder autoritário foi descrito pelo colunista do jornal O Globo, Ricardo Noblat, da vizinha República do Brasil, como “ditador” e “burro”.

Felizmente, a ação do regime de Cid contra a revista IstoÉ se encontrou rapidamente com o melhor juízo do STF, que derrubou a censura e permitiu a circulação livre do periódico, mostrando que o Ceará ainda não é uma Coréia do Norte. Ainda não é.

Durante a semana em que o episódio envolvendo Cid e a revista IstoÉ explodiu nacionalmente, não houve sessão na Assembleia Legislativa do Estado. Deputados da base governista e outros seguidores do regime simplesmente não apareceram e a sessão foi cancelada por falta de quórum. Evidentemente, a corte não deixaria a oposição explorar o tema em plenário.

Agora vem a tona o caso do jornalista Roberto Moreira. Há indicações de que o próprio Sistema Verdes Mares preferiu desativar o blog do jornalista. O mínimo de discernimento é suficiente para nos fazer crer que a razão não foi desconfiança em relação às fontes do jornalista. Por vezes, ele mostrou que sabe das coisas. Seus acertos são em número bem maior que seus erros.

O esclarecimento posterior publicado pelo jornalista não foi nenhuma negação do que havia revelado anteriormente, antes, ele apenas afirmou que a assessoria de Camilo Santana havia negado a informação. Não foi suficiente. Apenas a censura total, desativando o blog, seria capaz de corrigir tamanha ofensa ao regime.

Como dito antes, não dá para saber quem praticou a censura contra o jornalista. Só dá para saber que ela existiu e que, não importa em que veículo de comunicação o indivíduo trabalhe, é sempre um perigo publicar algumas linhas que ofendam o regime de Cid Gomes.

Alguém deveria fazer alguma coisa para impedir a continuação desse fedor de repressão no Ceará. A terra do humor não combina com ditadura.




Comentários

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  1. MAS. OS DIAS DE PODER E ARROGANCIA DESTES F. GOMES, ESTAO POR 15, IRAO CURTIR UMAS LONGAS FERIAS CARIBENHAS . . .

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