Dá licença, eleição é prioridade!

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O texto a seguir é de autoria do
Historiador e colunista de Política, 
Wanderley Filho:

Já imaginou, caro leitor, chegar em um hospital com crise de apendicite e descobrir que o cirurgião pediu licença para atuar por duas semanas como militante de campanha eleitoral? Ou, no caso de ocorrência policial, ser informado que o delegado se afastou pelo mesmo motivo? Ninguém pensa em situações assim, pelo simples fato de que é algo impossível, afinal, na escala de prioridades desses profissionais, e horário de expediente, as eleições ficam em segundo plano. A não ser que o servidor em questão seja governador ou um político com outro mandato qualquer. Nesses casos, a prioridade é invertida. O que são pacientes sem atendimento, seca, violência, essas coisas, diante da emergência de uma campanha eleitoral? É uma lógica cruel, mas é assim que funciona.

No Ceará, não é diferente. Pesquisas eleitorais despertaram o instinto de sobrevivência política do governador Cid Gomes, que prontamente anunciou a decisão de se afastar temporariamente do cargo para ajudar na campanha de Camilo Santana (PT), seu indicado, para o governo estadual. O anúncio veio adornado com aquele palavreado cívico, pelo qual deixar as obrigações de lado para “mergulhar” na campanha seria um ato de desprendimento. Como se os eleitores precisassem do alerta clarividente de quem está no poder; como se a escolha por alguma outra opção fosse uma espécie de autossabotagem da população. É natural que governantes apoiem candidatos, mas com o devido comedimento, com respeito a pluralidade e discernimento para não confundirem o processo eleitoral com teorias conspiratórias, teses golpistas ou manifestação de injustiça. Esse tipo de distorção é comum aos que não compreendem a natureza da democracia, afinal, governos não têm donos e a alternância é normal, pois o poder emana do povo.

Dito isso, lembro que nada há de ilegal no pedido de licença. Aliás, político priorizando eleições é regra em todo o mundo. A questão é ficar atento aos limites impostos pela condição de governantes. O próprio Cid já havia feito isso em 2012, na acirrada campanha para a Prefeitura de Fortaleza. Entretanto, dessa vez, ao decidir repetir a estratégia logo após a divulgação de uma pesquisa desfavorável ao candidato governista, ficam sinalizadas as seguintes impressões: 1) as coisas não saíram como o planejado; 2) o medo de perder se instalou no comando da campanha; 3) a candidatura apresenta sinais de fragilidade. Tivesse saído antes, isso não aconteceria, mas agora, a percepção de que o candidato precisa ser salvo às pressas pode até atrapalhar.

De todo modo, Cid faz é bem em pedir para sair, pois assim oficializa uma situação que já existia de fato. O certo é que um chefe de governo deve estar totalmente empenhado nas questões públicas e na agenda administrativa, caso contrário, que se afaste mesmo. Aliás, bem que Cid poderia ser acompanhado por alguns secretários, como seu irmão Ciro Gomes na Saúde e Ferrúcio Feitosa na tal Secretaria de Grandes Eventos, que ultimamente aparecem mais atuando como cabos eleitorais do que exercendo suas funções originais. Tudo o que o Ceará não precisa neste momento é de autoridades que, na prática, deixam seus afazeres para priorizar interesses partidários.

*Publicado originalmente no site Tribuna do Ceará




Comentários

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  1. -ISSO QUE DA, ELEGERMOS POLITICOS PROFISSIONAIS, NAO SABEM OU NAO TEM OUTRA FONTE DE RENDA, QUANDO ESTAO AMEACADOS DE PERDER A BOQUINHA, DESESPERAM-SE, E, PARTEM PRA CIMA DE TODOS; ELEJAM TECNICOS, EMPRESARIOS, PROFISSIONAIS LIBERAIS, ASSIM COM A ALTERNANCIA DE PODER, VOLTAM A SUA VIDA NORMAL. . .

  2. Será que delegado, médico, jornalista, advogado não se ausentam do emprego. Já ouvio falar em férias… Com cetreza fica um substituto.

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