Sobre um filho enlutado e nossa política burra

- por
  • Compartilhe:

A revolta de um filho ao ver seu pai morrer após receber atendimento médico num hospital público travou todos os debates políticos no município de Quixadá, neste domingo, 28.

Mais cedo, um vereador havia insinuado que a campanha de Eunício Oliveira seria “possivelmente coordenada” pelo prefeito João da Sapataria. O astucioso e oportunista parlamentar talvez tenha usado a palavra “possivelmente” para acalmar a própria consciência, já que ele sabe que a informação é mentirosa. A coordenação estadual da campanha de Eunício Oliveira nem sequer sabe o que fazer com o apoio inesperado e não solicitado do pior prefeito da história de Quixadá. Provavelmente não faça nada. Seja como for, a mentira do vereador perdeu a importância.

Mais cedo, também, as redes sociais fervilhavam se debruçando sobre as implicações das reviravoltas eleitorais a partir das viradas deste ou daquele político a favor ou contra este ou aquele candidato. Irrelevante.

Quando um filho chora diante das câmeras e diz que tem parte da culpa pela morte do próprio pai por ter votado em determinado candidato, tudo o mais deve ficar em segundo plano e o mínimo de consciência e responsabilidade social que tivermos precisa fluir para as camadas superiores da nossa alma, precisa estender-se acima das considerações apaixonadas por siglas e cores.

O desabafo do filho enlutado e suas considerações acerca do triste episódio envolvendo a morte de seu pai com certeza devem ser respeitados. Para nós, porém, é mais produtivo não usar a oportunidade apenas para apontar culpados. Até porque, neste complexo sistema de defesa de interesses, criado e sustentado em todos os espaços de prática política do nosso país, ninguém tem condições para ser considerado culpado sozinho por esta ou aquela demanda. O escopo da culpa pelas demandas sociais não satisfeitas ultrapassa as fronteiras da ação de apenas uma ou duas pessoas.

A oportunidade é para nos esforçarmos a identificar fatores que nos ajudem a fortalecer as barreiras contra políticos não apenas desonestos e fichas sujas, mas também incompetentes. Atualmente, as urnas não filtram praticamente nada e contamos apenas com a justiça eleitoral quando, numa ou noutra lua cheia, ela resolve aparecer.

Tenho visto nas redes sociais profissionais do direito, médicos, contadores, arquitetos, filósofos, teólogos e outros, bem como universitários e demais estudantes das mais diferentes áreas do conhecimento, promoverem o fortalecimento da política burra, baseada no amor a siglas e cores ou, ainda, no ódio a este ou aquele partido.

E a lógica da análise fria? E a racionalidade? E a avaliação ponderada acerca da factibilidade das propostas dos candidatos? E a avaliação do histórico de vida deles? E suas propostas específicas para nossa região? Como e quando o candidato pretende implanta-las?

A promoção da avaliação superficial e do engajamento idiota no processo eleitoral por parte de pessoas supostamente esclarecidas é algo assustador.

Sem generalizações, meu pensamento ao mencionar tais pessoas se apega a casos específicos que vi recentemente. Há, também, muita gente disposta a considerações mais sóbrias acerca de política. As redes sociais não são de todo ruins.

O fato é que nossa sociedade se compõe de um bando de gente insultando as paixões eleitorais umas das outras enquanto nossos famigerados líderes se apropriam do poder de usar a democracia em benefício próprio, com consequentes custos para a coletividade. Uma visão dos infernos.

Quando pararmos de nos comportar feito abilolados em nossas avaliações eleitorais; quando começarmos na propositura de nossas ideias a oferecer premissas que justifiquem as conclusões que a elas dão substância e, na crítica às ideias dos outros, pudermos apontar falhas que desconstruam as premissas das conclusões que queremos desmascarar, numa análise objetiva; quando pararmos de ter a mídia como nossa guia exclusiva, talvez até substituindo-a completamente  por livros e escola, aí sim teremos uma revolução que a todos interessa.

Enquanto a idiotice das cores e das siglas dominarem nossa toada de campanha, porém, podemos ficar certos: outros filhos enlutados ainda derramarão muitas lágrimas.




Comentários

Os comentários abaixo não representam a opinião do Monólitos Post; a responsabilidade é do autor da mensagem.
  1. Vai trabalhar Everardo Filho..quem és tu pra falar de alguém ?Qual moral tem pra isso?

Deixe seu comentário

Os comentários do site Monólitos Post tem como objetivo promover o debate acerca dos assuntos tratados em cada reportagem.
O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade civil e penal do cadastrado.