Sociedade brasileira condescende com corrupção porque é corrupta também!

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A corrupção nos governos é, sem dúvida, uma praga que traz enormes prejuízos ao povo. No Brasil, pessoas morrem todos os dias nos hospitais por falta de medicamentos, equipamentos e profissionais plenamente habilitados. Crianças recebem educação deficiente nas escolas. Cidades apresentam-se em péssimo estado de conservação e desenvolvimento. Tudo isto – e muito mais -, tem em grande medida a corrupção como fonte primária.

A situação neste país é tão grave que análises recentes atribuem aos desvios de dinheiro público a responsabilidade pela perda de 2,3% do PIB o que, convenhamos, é muito dinheiro.

Mas pelo que se pode facilmente perceber, mesmo sem precisar de uma análise mais profunda, é que a corrupção é mais da nossa sociedade do que propriamente do governo. O governo parece traduzir – e suas transgressões recebem evidentemente mais atenção, até pelo impacto que causam -, a situação existente em toda a sociedade. É possível, inclusive, falar-se em corrupção institucional e naquela que é, evidentemente, cultural.

O pai que diz ao filho: “Se você fizer isto, eu te dou aquilo”, ou o que permite ao filho praticar meios escusos de obter êxito em projetos escolares, como copiando tarefas e pesquisas da internet e, depois, apresentando-as como sendo o resultado do próprio esforço; o pai que deixa o filho sem habilitação dirigir carro ou pilotar uma motocicleta; o cidadão que dá seu jeitinho, aqui e acolá, para se beneficiar de práticas evidentemente ilegais, tais como desviar um sinal de TV ou fazer o chamado “gato” no fornecimento de água e energia; aquele que se dispõe a pagar ao guarda de trânsito para se livrar de uma multa; todos estes promovem, de forma direta e indireta, elementos de corrupção que acabam se tornando parte da história de cada um, e acumulam-se para formar a identidade corrupta da sociedade.

Rui Barbosa já dizia que “negociata é aquele bom negócio para o qual não me convidaram”. E, de fato, parece ser mesmo assim. Quando é hora de criticar os outros, aponta-se o dedo e se fala em negociatas, corrupção, etc. Quando a prática é atribuída ao próprio indivíduo, aí não. Em geral é qualificada com outros termos, justificada por mil motivos diferentes. Corruptos são só os outros.

46py3imyx2gxn6ler3jpejugkA verdade é que a corrupção está introjetada na sociedade como elemento cultural de múltiplas origens históricas. No caso deste país, não é que o brasileiro seja, por nacionalidade, corrupto. Mas a corrupção é, sem dúvidas, um elemento historicamente presente em sua sociedade, assim como em todas as sociedades do mundo. Se vista de uma perspectiva mais ampla, a corrupção pode ser encarada até como parte integrante da natureza humana.

A solução para a criação de uma realidade mais suportável parece ser, em parte, apostar na desconstrução da naturalização da corrupção, o que pode ser feito, inclusive, nos anos escolares iniciais. Depois, investir na prevenção através de mecanismos de transparência e fiscalização, bem como nos meios legais que evitem a impunidade. Mas tudo isto depende de tantos fatores que, com sinceridade, a situação é desanimadora.

Ruas barulhentas tem muito poder para mudar o quadro governamental presente, mas pouco podem fazer para obliterar a raiz, o DNA, do verdadeiro problema. No fundo, no fundo, permanece a validade do velho provérbio: “Quer mudar o mundo? Comece por si mesmo!”




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