Pensamento, superficialidade, revolução e amor

- por
  • Compartilhe:
pp5

O Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vince.

O pragmatismo é ótimo quando exercitado num contexto abrangente, onde elementos tais como a reflexão, inclusive a reflexão moral, acompanham as decisões.

Parece ser cada vez mais comum, nestes tempos que o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, descreve como “tempos líquidos”, nos sentirmos pressionados a decidir rápido o que tivermos para decidir.

De fato, é como se este mundo sempre mais apressado tentasse, de todas as formas possíveis, nos induzir a sacrificar os aprofundamentos, a interiorização, a reflexão, a ponderação.

A crença subjetiva desta realidade, já introjetada nesta geração e expandida em cada um de nós, segundo após segundo, durante todo o dia, através de meios até imperceptíveis, tais como os pequenos aparelhos tecnológicos facilitadores de tudo, vai nos levando ao hábito de sacrificar o ato de pensar para decidir. Tudo deve ser tão rápido quanto um simples clique.

São raros os espaços que incentivam e trabalham o exercício do pensamento organizado, a lógica, a razão, a busca do saber livre das correntes da pressa.

O resultado direto deste fenômeno é um mundo líquido mesmo, sem forma, indefinível – exceto pelo exato momento passado e que já nada mais significa -, um mundo onde as convicções e a segurança das certezas já não são desejáveis.

Neste toque insistente, a tendência é o sacrifício de tudo o que confere alguma estabilidade, imprudentemente confundida com valor ultrapassado ou valor tradicional. A coisa é tão forte, que até a palavra “tradicional” mais parece uma peça esquecida no final da velha prateleira do museu.

Este é o típico movimento das estruturas de convivência que acaba em alguma forma de revolução. Realmente, como resultado da chegada feroz do valor da superficialidade, do pragmatismo e da velocidade que sufoca a reflexão – justificados com os mais sedosos argumentos, daqueles típicos dos terrenos de defesa do que é moderno -, as sociedades serão levadas ao caos.

Sem referenciais de estabilidade, rachar-se-á o tecido que emenda a paz, o fino trato, a civilidade e tudo o mais que nos permite buscar liberdade e felicidade com a necessária segurança.

Que este mundo líquido encontre, antes disso, uma maneira de permanecer assim mesmo, mas sob o chão da capacidade humana de pensar, e de pensar ao ponto de encontrar no pensamento as bordas do amor. E que todos nós sejamos pragmáticos em amar, reconhecendo nele a salvação neste “círculo vitruviano”, perfeito, que é a existência.

________

1975109_895395303833674_3941638773056511380_nPor Gooldemberg Saraiva

 




Comentários

Os comentários abaixo não representam a opinião do Monólitos Post; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário

Os comentários do site Monólitos Post tem como objetivo promover o debate acerca dos assuntos tratados em cada reportagem.
O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade civil e penal do cadastrado.