Atendendo a requerimento de autoria do vereador Higo Carlos, a responsável pela Cooperativa de Profissionais de
Saúde LTDA (DINAMICA), Dr. Eliane Lelpo de Assis, compareceu ao plenário da Câmara Municipal de Quixadá junto com o assessor jurídico da empresa, Dr. Jarbas da Silva, na manhã desta quinta-feira, 17. A participação deles serviu para mostrar com clareza o completo descontrole administrativo, especialmente relacionado à pasta da saúde, que vem massacrando a população da maior cidade do sertão central cearense.
A dirigente da DINAMICA não conseguiu explicar os termos do contrato de sua empresa com a Prefeitura de Quixadá e demonstrou que desconhece a real situação da prestação dos serviços públicos de saúde no município. Ela não sabia responder, por exemplo, quantos profissionais médicos a UPA de Quixadá deve manter em cada plantão. Desconhecia episódios fartamente divulgados pela mídia, tais como a ausência de médicos em horários nos quais deveriam estar atendendo. Ficou completamente nervosa e enrolou-se ao tentar esclarecer como funcionava os pagamentos dos médicos que foram trazidos para substituir os profissionais de Quixadá que, por falta de pagamentos, deixaram de atender no município.
Surpreendentemente, a dirigente não sabia quantos funcionários sua empresa mantém em Quixadá. Além disso, afirmou que não fazia fiscalização porque confiava na secretaria de saúde do município.
Ela revelou que o ex diretor do hospital Eudásio Barroso, Michel Ximenes, efetuava pagamentos aos médicos trazidos de Fortaleza com cheques pessoais e, depois, recebia de volta os valores, mas não soube precisar se a devolução era feita pelos próprios médicos ou pela prefeitura, comprovando a existência de um esquema completamente alheio a todos os métodos legais de realizar esse tipo de procedimento. Também não foi suficientemente precisa ao tentar explicar os motivos pelos quais Michel Ximenes desfrutava de um super-salário de cerca de quarenta mil reais por mês. Em contrapartida, no mesmo período em que ele recebia esse montante mensal, o hospital não dispunha de remédios e materiais básicos para atender a população.
Eliane Lelpo esquivou-se da responsabilidade pelo caos da saúde no município de Quixadá, atribuindo praticamente toda a culpa à gestão municipal sob o comando do prefeito João Hudson Bezerra. Ela deixou escapar uma informação impressionante que mostra o quanto a gestão do atual prefeito é dissociada de qualquer nível de responsabilidade quanto a manter a transparência de suas ações. Segundo Eliane Lelpo, as informações sobre a cooperativa, requeridas desde janeiro de 2013 pela câmara municipal, não foram enviadas porque a secretaria de saúde impedia que a DINAMICA fizesse isto. “Eles diziam: deixe isso conosco que a gente resolve”, afirmou a dirigente sobre as solicitações da câmara. Ou seja: por influência da gestão municipal, a câmara deixou de obter informações essenciais ao desempenho das funções dos vereadores.
A dirigente da DINAMICA também afirmou que o pagamento de salários de alguns cooperados referentes aos meses de outubro e novembro de 2013, bem como março de 2014, estão atrasados, mas que a empresa está trabalhando para sanar o problema. Indagada pela vereadora Ivana Magalhães, ela acabou explicando que apenas cooperados com proventos na ordem de salário mínimo estão com atrasos. “Só os pobres são prejudicados”, disparou a vereadora.
PARTICIPAÇÃO DO VEREADORES
Eliane Lelpo chegou a lembrar aos vereadores a necessidade de fazer um intervalo para um lanche e afirmou que tem problemas cardíacos. “Nós esperamos um ano para isso, agora a senhora vai ficar aqui respondendo nossas perguntas. Hoje nós não temos hora para sair daqui”, disse a vereadora Rosa Buriti.
Os vereadores desabafaram o quanto puderam e a dirigente da DINAMICA foi obrigada a ouvir a todos, visivelmente nervosa.
Higo Carlos afirmou que a falta de responsabilidade da Prefeitura de Quixadá e da Cooperativa dirigida por Eliane Lelpo está matando pessoas no município. Ele solicitou que todos os dados referentes aos cooperados fossem entregues para análise da câmara o quanto antes.
Rosa Buriti e Ivana Magalhães estavam decididas a não deixar a peteca cair, e quase não deram espaço para a diretora respirar. Sempre havia mais uma pergunta depois da última resposta mal dada. As parlamentares exigiram que a DINAMICA enviasse a identificação de todos os cooperados, quanto ganham, onde trabalham e o que fazem. Ivana Magalhães detectou diferenças entre as respostas dadas na sessão de hoje com as respostas dadas às mesmas questões em depoimento à CPI da Saúde, da qual ela é relatora. “O que a senhora disse aqui vai acabar no relatório final da CPI, não tenha dúvida”, garantiu a parlamentar.
O vereador Audênio Moraes sugeriu que houvesse quebra do sigilo fiscal e telefônico, o que poderia ajudar a detectar esquemas criminosos de desvio de recursos públicos.
Laércio Oliveira foi enfático ao pedir que o contrato com a Prefeitura de Quixadá fosse suspenso imediatamente. “Sinceramente, a cada fato novo que vocês trazem, eu fico mais decepcionado”, afirmou o vereador, que é presidente da CPI da Saúde.
Kelton Dantas e Capitão também desabafaram e externaram toda a indignação deles com a maneira como a saúde de Quixadá tem sido conduzida.
FUTURO DA COOPERATIVA DINAMICA EM QUIXADÁ
Diante de tudo o que foi exposto na sessão de hoje, os vereadores deverão solicitar investigação profunda do Ministério Público Federal e Estadual, bem como das polícias Civil e Federal. O dinheiro que paga a DINAMICA tem origem nos Governos Federal e Estadual e uma devassa na parceria entre a empresa e a prefeitura se faz necessária. É pouco provável que a Cooperativa DINAMICA permaneça por muito mais tempo com seus tentáculos enraizados no município de Quixadá.


