Pesquisa revela possível relação entre prática religiosa e desempenho escolar

- por
  • Compartilhe:

Uma rodada de entrevistas com alunos de quatro regiões de São Paulo, realizada entre os meses de outubro de 2013 e abril de 2014, tornou possível entender parte de uma realidade nacional – de polarização religiosa entre católicos e evangélicos e do crescente número de pessoas que afirmam “não possuir qualquer religião”.

Ao mesmo tempo, comprovou-se a informação de que a prática religiosa seguida de uma base familiar sólida são fatores que influenciam no desempenho escolar. Os entrevistados, entre 16 e 18 anos, apresentaram informações semelhantes aos coletados por um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul e em algumas cidades do Nordeste.

Na análise “A influência da religião no desempenho de escolares”, os pesquisadores demonstram a relação entre religião e desempenho escolar. Nina Meneses Cunha, em sua tese de pós-graduação, também chegou a conclusões semelhantes.

Números levantados e tabulados a partir das entrevistas, exemplificam a polarização católico-evangélica dimensionada nos entornos das instituições, nas periferias. Pelo menos nas escolas pesquisadas, o número de alunos que se declaram “católicos” (39%) é inferior aos que se declaram “evangélicos” (44%). Tal diferenciação se explica pela localização geográfica, da periferia, onde igrejas pentecostais (particularmente Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Pentecostal Deus é Amor, Casa da Benção) são maioria em comparação ao número de igrejas católicas, localizadas nas vias de acesso aos bairros.

Outro dado interessante e que aparece em consonância com recentes levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o grande número de alunos que declaram “não possuir qualquer religião” (12%). Outros 5% são compostos por testemunhas de Jeová e espíritas. O número de alunos que declaram pertencer ou não a uma religião é um reflexo da dinâmica social, da realidade nacional.

Cruzando os números obtidos com o desempenho escolar, questões socioeconômicas, capacidade educativa dos pais, disciplina da religião pertencente, valores sociais inerentes à prática religiosa são elementos que aparecem como fatores da diversidade de resultados obtidos.

Dos que se declaram evangélicos (44%), pelo menos 25% possuem dificuldade de assimilação das disciplinas, por fatores que passam pela situação socioeconômica e ausência de apoio intelectual dos pais – a maioria dos quais sequer cursou o ensino fundamental. A localização geográfica, a característica da periferia, da ausência dos pais em casa, devido ao trabalho, são elementos que pesam na capacidade de desempenho dos entrevistados.

Realidade não muito diferente ocorre entre os que se declaram “católicos”. Dos 39%, pelo menos 29% também possuem dificuldade na assimilação das disciplinas. Apesar dos números desfavoráveis, tanto católicos praticantes (envolvidos em atividades das dioceses) quanto evangélicos se destacam no quesito disciplina – da capacidade de acatar ordens, de respeito para com professores.

Outro fato importante a se destacar – com referência a evangélicos – é que há um maior índice dos que declaram possuir o “hábito de leitura”. O motivo, segundo depoimentos, é que a leitura da Bíblia e de livros evangélicos, os conduz a outras leituras, embora não necessariamente acadêmicas.

No universo católico o acesso a textos bíblicos e estudos relacionados é inferior ao verificado no evangélico – com excessão dos que se declaram “carismáticos” (12%), pelo fato de possuírem maior acesso a livros de autoria católica e também evangélica.

Dos que se declaram “testemunhas de Jeová” há um maior índice de desempenho escolar, de leitura e disciplina, devido à dinâmica doutrinária a que são submetidos nos chamados Salões do Reino, embora o incentivo ao ingresso na universidade seja inferior ao verificado entre evangélicos e católicos.

Dos que se declaram “espíritas”, há semelhanças ao verificado entre evangélicos e católicos – particularmente com relação ao acesso a leitura e disciplina. São dados relevantes do ponto de vista sociológico.

De uma forma geral, e aproveitando uma das conclusões obtidas pelos pesquisadores, a religiosidade tende a exercer influência no comportamento escolar, especialmente em relação à observância às normas sociais e da instituição de ensino onde estudam.

Os resultados da pesquisa evidenciaram que alunos que seguem alguma opção religiosa apresentam maior disposição em estudar em casa, talvez pela disciplina imposta pelos próprios pais. Entre os que responderam não levar em consideração a igreja, o percentual de alunos que não estudam em casa foi significativamente maior do que os demais grupos.

Tal constatação indica que a religião possui influência no comportamento dos alunos, principalmente, no que diz respeito à disposição e estímulo para estudar e, consequentemente, na aprovação e/ou reprovação escolar”, conclui o relatório dos pesquisadores.

Fonte: www.onortao.com.br




Deixe seu comentário

Os comentários do site Monólitos Post tem como objetivo promover o debate acerca dos assuntos tratados em cada reportagem.
O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade civil e penal do cadastrado.