Por Angela Borges
Em 19 de julho de 2012 foi fundada a Academia de Letras do município de Quixadá, numa reunião ocorrida na casa do casal João Eudes Costa e Angela Borges. A ideia há muito sonhada era congregar os escritores do sertão central com o objetivo de incentivar a juventude a ler mais e a produzir também seus próprios trabalhos.
Conseguimos com a Transnordestina o antigo prédio da Estação Ferroviária de Quixadá, em deplorável estado (Foto acima), mas nos unimos com o intuito de tornar o local habitável para nossas reuniões e para a instalação de uma biblioteca com vasta programação cultural, inclusive levando as escolas para participar com seus alunos.
Tudo caminhava bem até o IPHAN lembar-se que era o responsável pela preservação do prédio. Engraçado que essa lembrança só ocorreu quando nós já tínhamos feito os devidos reparos, com recursos próprios e sem modificar a estrutura externa do prédio.
Enfrentamos enormes dificuldades, fomos várias vezes ao IPHAN na tentativa de resolver o impasse, mas nada conseguimos. Eles nos prometeram ajudar na reforma e ficaram com os dois galpões que estão com as portas brancas para fazerem lá seu escritório, ficando o espaço pequeno para fazermos um auditório para nossas reuniões e uma ampla biblioteca, já que temos um grande acervo para expor ao público.
Diante da recusa do referido órgão em nos autorizar a remover apenas uma parede interna para que pudéssemos dar andamento aos nossos projetos, no dia 26 de julho de 2014 foi realizada uma assembléia geral e posta em votação a devolução do prédio à Transnordestina , de quem recebemos. Foi votada e aprovada a devolução do prédio, uma vez que todos nós já estamos cansados de ficar de braços cruzados esperando por uma promessa que já se arrasta há quase 2 anos.
O IPHAN, ao ser procurado pelo jornal Diário do Nordeste, disse que não tínhamos apresentado nenhum projeto de reforma e que nosso acordo era apenas verbal. Lamento desfazer esse equívoco, mas o projeto existe sim. Foi entregue à Transnordestina, bem como foi dela que recebemos um contrato assinado por um ano para ocupação , prorrogável por mais 20 anos.
Até então nem sabíamos que existia esse órgão, o IPHAN, pelo menos em nossa cidade, pois os prédios e patrimônios históricos que deveriam ser preservados por eles estão abandonados, como é o caso do Açude do Cedro.
Ficamos sem a sede, mas isso não significa dizer que a Academia vai deixar de existir. Muito pelo contrário. Vamos mostrar que nosso compromisso é com Quixadá, sua cultura, sua gente. Só esperamos que o IPHAN cumpra seu papel, preserve o que nós consertamos e não deixe tombar como está acontecendo com o galpão do almoxarifado da estação, que se encontra no mais completo abandono.
Nós já começamos a colher os frutos do trabalho plantado pela Academia. Hoje, o jovem Gabriel Damasceno apresentou à comunidade estudantil do IFCE seu primeiro livro de uma trilogia intitulado Nita Kairu e outros já se preparam para publicar seus trabalhos. Isso é muito mais gratificante que um prédio que está marcado para ruir, se as pessoas responsáveis não tomarem as devidas providências.



Somente na data de hoje tomamos conhecimento do impasse gerado pela incompreensão e a insensibilidade do IPHAN que, de maneira arbitrária impediu o funcionamento da ACADEMIA QUIXADAENSE DE LETRAS no prédio que lhe fora cedido pela empresa proprietária do mesmo.
Quixadá é o berço de artistas e intelectuais. O gesto intempestivo do IPHAN revela sua incompreensão uma total ignorância sobre a importância da Academia e a sua contribuição inequívoca para a construção de uma sociedade mais culta e mais preparada para enfrentar os grandes desafios do futuro A pretexto de preservar o patrimônio histórico, literalmente abandonado, o IPHAN ameaça o patrimônio imaterial que a Academia representa.
Conhecemos o cronista e historiador João Eudes Costa desde a década de 1960 acompanhando suas crônicas bem elaboradas publicadas na imprensa cearense.
Foi ele, como correspondente do jornal O POVO, quem primeiro anunciou a luta pela implantação da Faculdade de Quixadá em matéria publicada em 06 de setembro de 1965 naquele órgão de imprensa.
Na nossa infância tivemos oportunidade de vê-lo defendendo a seleção de Quixadá contra a seleção de Quixeramobim.
A partir de nossa ida para a imortal FECLESC, em Quixadá, na década de 1980 passamos a ter contato pessoal com o mesmo e conversamos com o escritor durante a gênese de sua obra de grande fôlego RETALHOS DE QUIXADÁ um precioso documento para ser adotado em todas as escolas do município e que, certamente passará como um grande legado para a posteridade.
Li o livro com sofreguidão e o tenho guardado cuidadosamente na minha estante.
RETALHOS DE QUIXADÁ é uma referência, um delicioso passeio pela Quixadá antiga, das charretes, do Curtume Belém, da Luzia, um resgate da belíssima história da PRINCESA DO SERTÃO, privilegiada na beleza de seus monólitos e no entusiasmo de seus filhos e de quantos tiveram e teem o privilégio de nela habitarem.
Saudamos intimamente a criação da Academia cujos pressupostos estão bem definidos no objeto de sua criação.
Temos a absoluta convicção que o incidente causado pela incompreensão do IPHAN jamais será um obstáculo intransponível na caminhada de João Eudes, Ângela Borges e dos acadêmicos que pontificam na instituição.
Emprestamos, ao final, a nossa mais irrestrita solidariedade aos valorosos membros da ACADEMIA QUIXADAENSE DE LETRAS na certeza de que, apesar do obscurantismo do IPHAN a academia resistirá e terá uma trajetória plena de luzes e glórias.
Gilberto Telmo Sidney Marques – professor aposentado da UECE e cidadão quixadaense
Caríssimo João Eudes Costa e demais acadêmicos da Academia Quixadaense de Letras e Artes.
Nos conhecemos através do ilustre acadêmico Paulo Segundo da Costa.
Desejo expressar minha mais forte solidariedade por esse momento de desalento que estão passando pela iminente possibilidade de perder a sede da Academia Quixadaense de Letras e Artes.Esse tem sido o triste destino de nossas entidades culturais da mesma natureza, tão pouco conhecidas, compreendidas e reconhecidas pela sociedade e, em especial pelo governo nos níveis municipal estadual e federal. Um país sem cultura não pode pensar em desenvolver e viver a cidadania plena, a democracia necessária.
Fé, força e coragem para ir avante !