O pacote de maldades e a indignação seletiva

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Dr. Gladson Alves do Nascimento.

Enquanto alguns atropelam o vernáculo no sentido de demonizarem o Presidente da República, Michel Temer, e seus potinhos de sorvete importados (crítica altamente condizente), os sonhos de um futuro melhor vão ficando escassos no seu contexto provinciano.

A situação nos demonstra que a ideologia, os interesses particulares, dominam o dia-a-dia das pessoas, onde tentam demonstrar sua indignação seletiva dos assuntos apresentados, no caso, os brasileiros perderam a capacidade de entender o bem comum e passaram a somente entender o viés ideológico como premissa.

Os 1,7 milhões de reais da licitação de Temer são motivo para discursos extremos de golpista, larápio, bandido. Mas, por exemplo, o governo Lula, também comprou 1,8 milhões de reais para o mesmo fim, e o pior, SEM LICITAÇÃO, e as mesmas pessoas que se mostram horrorizadas com a situação atual simplesmente bateram palmas. Indignação seletiva?

Na verdade os exageros são gritantes, mas não podemos deixar de lembrar o que acontece no “terreiro de nossas casas”, aqui no mundinho sem importância dos nossos municípios, onde absurdos que impactarão a vida de cada cidadão encontram-se em gestação ou mesmo configurados, sem mesmo uma palavra de reclamação dos que se indignam seletivamente.

No nosso mundinho particular podemos destacar três momentos de extrema impactação econômica por decisões tomadas no calar da noite ou no raiar do dia, mas sem nenhum debate ou indignação dos que não suportam ver os sorvetes importados na mesa de determinados agentes políticos.

Em primeiríssimo lugar da vergonha generalizada, tem-se o aumento abusivo do subsídio do prefeito, vice, secretários e, consequentemente, vereadores na nossa cidade conhecida oficialmente como Quixadá – a terra da querida/inesquecível Rachel de Queiroz, onde, sem previsão orçamentária, após o período elencado pela Lei Orgânica Municipal, acima dos índices de inflação, foi autorizado o aumento das figuras acima. E a indignação? Ouviram-se silêncios ensurdecedores!

Jactando-se de insinuações gritantes, não conhecemos o verdadeiro impacto econômico da medida, uma vez que não foi dada oportunidade ao debate público da situação da majoração dos referidos subsídios, onde alguns ainda defendem a qualidade dos futuros gestores como a verdadeira motivação do aumento, quedando-se inclusive à análise necessária da comparação do salário do governador do Estado para com o do futuro edil, ou melhor explicando, o governador oficialmente receberá menos. O tempora, o mores! (“ó tempos! ó costumes!”)

No segundo instante de indignação seletiva negativa, destaca-se o aumento abusivo da Taxa de Iluminação Pública, a famigerada CIP, que obteve, em certa faixa de consumo, o exorbitante aumento de 77%, onde a discussão da sociedade mais uma vez não existiu, além de não ser do conhecimento geral o verdadeiro impacto na vida das pessoas e das empresas, principalmente em momento de grande crise econômica.

Sabe-se agora que o pacote de maldades não restará apenas no que se demonstra e sim na majoração também exorbitante do IPTU, já que a gestação é incontestável.

Grande parte das medidas foram tomadas pela briosa equipe de transição do novo gestor, sob as bênçãos do interino que passara a vida indignado com outras situações de pretensos desvios de recursos como a venda do hotel municipal, colunas do hospital municipal, ciclovia do Cedro, polo do Eurípedes, mas agora sente-se à vontade para massagear o ego da nova gestão sob o pálio argumento da boa convivência política.

Não somente de impacto econômico vivem os dias atuais no seu aspecto administrativo, como também a vergonhosa decisão de praticamente extinguir a Secretaria de Cultura, que será absorvida por outra e sob o comando de pessoa estranha ao ninho cultural (a crítica não é pessoal). Sobre este item da explanação merece destaque a letargia dos movimentos culturais tão atuantes em outro momento de extinção tentada pelo gestor afastado, que foi abortada pelo âmago da defesa da cultura naquele momento, mas que não encontrou sintonia neste instante, comprovando que alguns são “mais iguais” que os outros.

E os salários atrasados? Bem, nesse instante, o salvador da situação dos salários atrasados foi o famigerado Governo Federal, que através da repatriação de recursos de pessoas e empresas, repassou verbas suficientes para quitação dos atrasos. Resumindo: só não paga quem não quer! E se alguém não quiser? Resta a sociedade organizada, sindicatos, Ministério Público, agirem no sentido de coibir o pagamento dos amigos do poder, em detrimento dos salários dos trabalhadores.

As empresas começam a sentir o problema de funcionar em uma cidade administrada sob o manto de decisões econômicas equivocadas, que com certeza devem provocar uma forte inadimplência no setor público e setor privado, a “curva de Laffer” poderá explicar o que virá no aspecto da majoração de taxas e impostos em momento de crise econômica, e a inadimplência das famílias será ampliada com significância, já que a renda familiar tem diminuído de forma preponderante.

Enquanto no País a administração pública tenta desarmar o gatilho da irresponsabilidade econômica, por situações de implementação perdulária, aqui temos uma nova matiz econômica, que podemos batizar como: “tirar leite de pedra”.

Para finalizar o entendimento só nos resta analisar a situação com o passar do tempo, principalmente com a chegada dos boletos do IPTU, das contas de energia, do tamanho da conta do pagamento dos subsídios dos agentes públicos, enfim, que venha 2017!

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Dr. Gladson Alves do Nascimento é advogado, ex-presidente da Subsecção da OAB em Quixadá e conselheiro estadual da Ordem dos Advogados do Brasil. 




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