Gracejos de Serra, Dilma e Lula contrastam com semana de conflito

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Um dia após o presidente ter xingado tucano, PT e PSDB resolveram pôr panos quentes na briga eleitoral

Ao fim de uma semana tensa, marcada por confrontos, desafios e impropérios entre situação e oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador José Serra, pré-candidato do PSDB na corrida ao Palácio do Planalto, encontraram-se ontem em São Paulo, mas trocaram amabilidades e mostraram bom humor durante dois eventos, no interior do Estado.

No primeiro encontro, em Itapira, onde participaram da inauguração de uma ala do laboratório farmacêutico Cristália, os dois divertiram e fizeram rir a plateia – políticos, executivos e funcionários da fábrica – com histórias sobre futebol. Lula até chamou o tucano de “meu governador, meu amigo Serra”. Depois, sentaram-se à mesa para um almoço com a direção da Cristália.

No segundo compromisso, em Campinas, onde foi assinado convênio entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), presidente e governador mantiveram o clima de cordialidade e afagos. Dessa vez, sob testemunho da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, a candidata de Lula à sua sucessão e protagonista do choque político.

Na terça-feira, durante festa do PAC em Jenipapo de Minas, no Vale do Jequitinhonha, ela afirmou que os tucanos planejavam a extinção do Programa de Aceleração do Crescimento. Era uma reação à entrevista do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), à revista Veja, na qual classificara o plano de “ficção”.

No dia seguinte, os tucanos reagiram ao discurso de Dilma. Guerra foi à réplica e a acusou de “mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades”. Na quinta-feira, durante a primeira reunião ministerial do ano, o próprio Lula chamou o presidente do PSDB de “babaca”. Disse que o senador está “desconectado da realidade”, só fala “bobagem” e não conhece o Brasil.

Ontem, no entanto, como se tivessem combinado um cessar fogo, Lula, Serra e Dilma, ao menos em suas aparições públicas, evitaram alimentar o confronto. Depois de percorrerem as novas instalações – empreendimento de R$ 160 milhões – do laboratório de Itapira, ao lado do presidente da Cristália, Ogari Pacheco, o presidente e o governador chegaram juntos ao palanque no pátio tomado por 400 convidados.

Serra deu a senha para um momento de descontração e amenidades quando disse que havia constatado, ao chegar, que é reduzido o número de palmeirenses na fábrica – o tucano é torcedor do Palmeiras. “Com isso já ganhei o dia, Serra”, respondeu o presidente, que torce para o arquirrival Corinthians. “Nada é mais importante para um corintiano do que ver um palmeirense perceber que aqui tem tão pouco palmeirense.”

No último evento do dia, quando Lula e Dilma apareceram sozinhos, sem Serra, para a inauguração da sede do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados, na capital paulista, o silêncio permaneceu sobre o confronto. Em quase 30 minutos de discurso, o presidente não fez nenhuma citação ao episódio do bate-boca entre tucanos e petistas.

Já Dilma, embora sem acusações diretas, retomou o debate de um dos temas que têm alimentado o tiroteio entre governo e oposição. “Se hoje somos respeitados é por ter retirado mais de 20 milhões de brasileiros da miséria e ter elevado a classe média a 31 milhões. Isso é o fator que nos diferencia. É isso que queremos continuar”, disse.

Em seguida, a ministra, sem citar nomes, questionou o discurso oposicionista do pós-Lula. “Eu quero dizer que muita gente está hoje discutindo o pós-Lula como se isso fosse um dia após o 31 de dezembro de 2010, quando a gente começa tudo outra vez. Não é verdade”, disse. “Se hoje está em todos os jornais que podemos ser a quinta economia do mundo, para chegarmos a isso é preciso vontade política, que levou o presidente Lula a mudar este país que se a gente olha para trás não reconhece muito”, emendou, para concluir que Lula havia feito a maior revolução do Brasil desde Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

PANOS QUENTES

Não só Lula, Serra e Dilma tentaram desanuviar o clima. A oposição como um todo preferiu não elevar o tom das críticas e pôs panos quentes. A estratégia dos oposicionistas é não bater boca com Lula e tentar manter em “nível alto” o debate eleitoral.

“Quando ele (Lula) faz comentários de baixo padrão, não vou respondê-los no mesmo nível. Não é esse o nível da discussão política que um presidente da República deve manter”, afirmou Sérgio Guerra, ao lembrar que Lula é conhecido por “não controlar seu vocabulário”. “Não vamos ceder à tentação de ir para o mesmo nível do presidente Lula. O povo não entenderia isso. Cabe a nós manter a sensatez”, concordou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), também considerou as declarações de Lula agressivas e desequilibradas. “Para quem tem uma aprovação de mais de 80% da população não faz muito sentido.”

Fonte: (estadao.com.br)




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