Apesar do salário convidativo que pode variar entre R 6mil ou R 7mil, a maioria dos médicos convocados para trabalhar no Interior do Estado do Ceará ainda prefere ficar na Capital.
No Interior, a proporção é de um médico para 4.949 habitantes, enquanto que em Fortaleza essa proporção é de um médico para 373 habitantes. Os dados são da pesquisa, divulgada ontem, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a concentração de médicos no Brasil.
Na média total, o Estado do Ceará apresenta a proporção de um médico para 994 habitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como parâmetro ideal de atenção à saúde da população a relação de um médico para cada 1.000 habitantes.
Hoje, 4.824 médicos trabalham em Fortaleza e 3.142 no Interior. Apesar da maioria dos Estados brasileiros apresentar a média recomendada pela OMS, a desproporção da presença desses profissionais quando os dados são analisados na Capital e Interior é muito grande.
Na pesquisa, a capital paulista apresenta a relação de um profissional para 239 habitantes, média superior à de países europeus. A região Sudeste concentra 55% dos médicos.
Comparado a outros estados, o Ceará apresenta uma média dentro do estipulado pela OMS, mas abaixo de outros estados da região Nordeste como Pernambuco (um médico para 754 habitantes), Paraíba (um médico para 886 habitantes) e Bahia (um médico para 972 habitantes).
No Interior do Estado de Roraima, há um médico para 10.306 habitantes, média inferior à de nações africanas.
Dados coletados entre os anos de 2000 e 2009 apontam que a média nacional de um médico para um grupo de 578 habitantes, índice próximo a de países como Estados Unidos, que é de 411 pessoas.
A pesquisa também mostra que o total de médicos cresce mais que o tamanho da população, em termos percentuais, e que nesse período avaliado o número de mulheres que se graduam em Medicina já supera o de homens.
Concentração
A escolha dos profissionais cearenses em trabalhar na Capital, engrossa a estatística apresentada na pesquisa do CFM: a concentração de profissionais em determinadas regiões mais desenvolvidas, no litoral e nas capitais, em contraponto com a escassez de médicos nos municípios mais distantes e pobres.
A explicação para essa situação, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, José Maria Pontes, é que o salário aparentemente atrativo não revela as péssimas condições de trabalho. Tem, ainda, a precariedade das cidades onde vão trabalhar, a insegurança e a falta de vínculo empregatício ou nenhuma garantia ou direito trabalhista quando acaba o contrato.
“Não sei nem informar quantas ações trabalhistas temos aqui no sindicato devido ao grande volume de processos. Em algumas cidades do Interior, o médico não tem a garantia nem de realizar uma sutura; não tem férias e muitas vezes depois de trabalhar o dia inteiro ainda tem que tirar um plantão”, argumenta.
Além disso, José Maria Pontes explica que fora de Fortaleza, o médico não tem a chance de realizar uma especialização, de evoluir na carreira. Ele justifica que o salário ideal para se trabalhar no Interior seria de aproximadamente R$15 mil.
Tramita no Congresso Nacional Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 454, que estabelece o salário de R$15 mil para os médicos.
A reportagem tentou entrevistar o secretário da Saúde do Estado, Arruda Bastos. O contato foi feito com a Assessoria de Imprensa da Sesa, que não deu retorno até o fechamento da edição.
No município de Fortaleza, a Assessoria de Imprensa não atendeu as ligações para comentar os dados da pesquisa.
Fonte: DN