O IBGE acaba de anunciar que a safra de 2010 será a maior da história, alcançando 146 milhões de toneladas, volume 9% superior ao de 2009. Isso apenas confirma o desenvolvimento da agricultura brasileira, mas, por outro lado, evidencia a estagnação em outras áreas. “Infelizmente, boa parte dessa riqueza vai se perder por conta da precariedade da infraestrutura”, avalia o especialista em transporte e logística, Antonio Wrobleski Filho, sócio da AWRO Participações e Logística.
O Brasil se aproxima da excelência quando se trata de plantar e colher, mas convive com a mediocridade quando se trata de transportar e embarcar os alimentos.
Grandes produtores, o centro-oeste e o Nordeste sofrem com a falta de alternativas próximas de escoamento. Boa parte da produção precisa ser embarcada no porto de Santos ou de Paranaguá – PR, uma viagem de cerca de 2 mil Km. Hoje se sabe que durante essa viagem sem fim, cerca de 60kg da carga de cada caminhão se perde pelo caminho. Isso faz com que o custo de produção em Mato Grosso, por exemplo, seja mais que o dobro do Paraná. E a diferença se explica exclusivamente pelo custo e as dificuldades do transporte.
Mais de 70% das rodovias utilizadas para o escoamento da carga são de péssima qualidade. Também contribui para o problema o estado de conservação da frota normalmente utilizada. Uma safra desse tamanho coloca cerca de 200 mil caminhões a mais rodando pelas estradas. “Em sua grande maioria têm mais de 15 anos de uso, estão obsoletos e mal conservados. Isso prejudica o tempo de viagem, a segurança e aumenta o desperdício”, diz Wrobleski. Por outro lado, é temerário investir em novos equipamentos que ficarão ociosos fora do período de safra.
A solução mais próxima para essa questão seria utilizar as ferrovias para o escoamento. “No entanto, as linhas são insuficientes e mais de 80% da malha está ocupada pelos setores siderúrgico e de mineração”, informa o especialista.
“Para evitar os desperdícios é preciso construir, investir, principalmente na extensão da malha ferroviária e criação de novos portos e modernização dos já existentes. No papel, o PAC contempla muitos avanços nessa área, mas é necessário que seja executado. Até agora, muito pouco foi feito”, avalia Wrobleski.
O especialista finaliza afirmando que é “necessário fixar datas e cronogramas e as avaliações devem ser feitas em curtos espaços de tempo para verificar o andamento das obras. E, para isso funcionar, é fundamental que a sociedade e a iniciativa privada pressionem o Governo. Afinal, se o poder público é o principal (mas não o único) responsável pela revitalização da infraestrutura, as empresas e os cidadãos são os grandes prejudicados por seu sucateamento”.