Prefeito de Itapipoca quer saber se Tiririca estudou

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O prefeito de Itapipoca, distante 130 km de Fortaleza, João Ribeiro Barroso, do PSDB, ordenou ontem uma investigação nos arquivos da cidade para apurar se Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, campeão de votos para deputado federal, frequentou alguma escola no município.

Segundo Barroso, o palhaço, que é natural dessa cidade do litoral cearense, teria estudado em uma das escolas da cidade, há quase 25 anos. O prefeito determinou ainda a procura de uma antiga professora, que teria ensinado Tiririca a ler e escrever.

A investigação da vida escolar de Tiririca é mais um capítulo da polêmica eleição do palhaço a uma das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados. Ele foi o recordista das eleições, com mais de 1,3 milhão de votos em São Paulo – mais que o dobro do segundo colocado, o escritor e cantor Gabriel Chalita.

Pouco antes da eleição, a revista ‘Época’ publicou reportagem colocando em dúvida a alegada escolaridade do candidato ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Para a revista, o palhaço seria analfabeto e essa condição o impediria de assumir o cargo na Câmara. A legislação eleitoral exige que candidatos a cargos eletivos sejam alfabetizados. Tiririca nega ser analfabeto.

Na última terça-feira, o Ministério Público apresentou denúncia contra o candidato no TRE-SP. Com isso, o palhaço terá dez dias (contados a partir de sua notificação) para provar que sabe ler e escrever. No processo encaminhado à Justiça há um laudo elaborado pela Polícia Técnico-Científica de São Paulo, segundo o qual o texto supostamente manuscrito por Tiririca, ao pleitear sua candidatura junto ao TRE-SP, tem problemas quanto à sua autenticidade. Com isso, o palhaço Tiririca poderá ser obrigado a realizar uma prova diante de juízes do tribunal eleitoral.

Em Itapipoca, há uma grande mobilização em favor do palhaço, a maior celebridade de uma cidade onde 18,2% de seus 100 mil habitantes são analfabetos, segundo o mais recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tiririca esteve recentemente em sua cidade natal, onde visitou parentes. Ele chegou a Itapipoca na última segunda-feira e foi embora na manhã de ontem. Ao longo dos três dias, o palhaço fez apenas uma aparição em público: na terça-feira à noite, quando participou de surpresa de uma função do circo Bertoldo de Portugal, instalado de maneira provisória em um terreno no centro da cidade. Nessa apresentação, ele foi reconhecido e saudado por moradores de Itapipoca.

Hoje com 45 anos, o palhaço Tiririca teria entre 15 e 20 anos quando passou por uma das antigas escolas da cidade, segundo informações não oficiais que chegaram ao gabinete do prefeito João Ribeiro Barroso.

Ainda há dúvidas em torno de quatro das 130 escolas, apontadas como as mais antigas e que coincidem com a adolescência do palhaço. São as escolas estaduais Joaquim Magalhães, Anastácio Braga, Murilo Cerpa e o Círculo Operário.

Em paralelo à abertura dos arquivos escolares, o prefeito Barroso ordenou que a Secretaria de Educação da cidade descubra o paradeiro de uma suposta ex-professora de Tiririca. “Esta é outra informação não oficial. Estamos procurando uma provável professora que teria dado aula para o Tiririca. Por enquanto, não temos nomes nem sabemos se ela existe”, afirmou.

O prefeito acredita na afirmação de Tiririca. “Creio que ele saiba, sim, ler e escrever. Tomo como base o trabalho que ele desempenha na televisão. O Tiririca é motivo de orgulho na cidade”, disse Barroso.

Em termos de comparação, São Paulo tem o maior número absoluto de analfabetos, mas está distante dos índices relativos de estados do Norte e Nordeste. A média de São Paulo é de 4,7% de analfabetos em um universo de 40 milhões de habitantes. Já o número de analfabetos funcionais (pessoas com mais de 15 anos, com apenas três anos estudo), é ainda maior.

Em Itapipoca, quase 40% das pessoas com mais de 15 anos cursaram apenas três anos de escola. Segundo o prefeito, a situação da educação na cidade já foi pior. Ele disse que quando assumiu havia alunos estudando em uma fábrica de farinha e até sob uma árvore. “Coloquei sete mil alunos em salas de aula”.

Fonte: Ivan Ventura




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