Monólitos Post

Já notou quão felizes e bem sucedidas as pessoas perecem ser nas redes sociais?

Famílias unidas, casamentos repletos de respeito e cumplicidade, filhos estudiosos, mães e pais amorosos e amados, gente organizada, equilibrada, cheias de energia e de disposição para o trabalho! Quase tudo nas redes sociais é só felicidade e perfeição.

A cada dia surgem mais aplicativos com novos filtros que são capazes de fazer qualquer fotografia horrorosa ficar ao menos aceitável. E quem já tem boa aparência, então, depois de ter a foto filtrada, fica perecendo até “côrra duôto mundo”, um anjo de Deus. Como a beleza é, em geral, associada inconscientemente à boas qualidades, os tipos mais desprezíveis de pessoas acabam passando por muito melhores do que realmente são.

Sem falar, é claro, dos religiosos. Não que seja errado expressar a própria fé através de uma postagem ou, quem sabe, demonstrar apreço pelo grupo religioso do qual se é membro. Mas, gente, convenhamos: tem uma galera que até tenta falar com Deus, por meio de rezas e orações, através das redes sociais.

Se isto é uma manifestação legítima de religiosidade sincera, não nos cabe julgar. Porém, apenas a título de sugestão, não seria o caso de pensar mais nas palavras de Jesus de Nazaré registradas no Evangelho de Mateus, capítulo seis, versículos cinco e seis? Afinal de contas, as orações são encaradas por nós como um ato privado ou como algo que deve ser exibido aos outros fiéis?

Redes sociais podem influenciar o conceito que você forma acerca da própria vida.

De fato, é fácil deslizar pelos perfis alheios – que mais parecem registrar a vida de moradores do Éden -, e acabar sendo alvejado pela impressão de que a própria vida é uma droga. Todo mundo está lá no paraíso e nós aqui, cheios de problemas, lidando com os espinhos e abrolhos da terra seca à nossa volta. Não sei se esta impressão já lhe aconteceu, mas eu não vejo problema em confessar que comigo já. 

Alguém pode dizer que tal pensamento só passa pela mente de que tem inveja. Mas o que é a inveja? É o desejo de ter ou de ser o que o outro tem ou é. E, na boa, você talvez também possa dizer que não faz questão de ser outra pessoa além de você mesmo. Então, não. Não é inveja. As redes sociais tem mesmo o potencial para forçar pensamentos negativos, depressivos.

Ora, nós conhecemos os nossos calos; sabemos onde o nosso sapato aperta; conhecemos nossas vergonhas, nossos defeitos, as dificuldades e incompletudes da nossa própria família. Temos plena ciência de que os relacionamentos que mantemos na vida real possuem seus altos e baixos, e que nem sempre nossa vida pode ser definida por aquele sorriso largo que acabamos de ver no perfil de um “amigo”.

Agora, este é o ponto: se sabemos que nossa vida não pode ser avaliada apenas por um momento de alegria, por que estamos criando o hábito de achar que a vida dos outros pode ser definida pelos perfis maravilhosos que eles apresentam nas redes sociais? 

Minha torcida, portanto, é no sentido de que os membros das novas gerações percebam o valor de olharem para si mesmos e para os outros a partir da ótica de uma coisa a que estávamos mais acostumados no passado, uma coisa simples chamada REALIDADE. É nela que realmente vivemos, que nos desenvolvemos, que criamos laços, que nos tornamos mais fortes após enfrentar variados tipos de sofrimento.

Isto é realmente sério: se não forem colocadas em seu devido lugar, as redes sociais acabarão por criar indivíduos fracos, indispostos e infelizes. Gente incapaz de olhar para a vida como ela realmente é e de avaliar os relacionamentos pelo que eles realmente são; gente incapaz de aceitar as próprias imperfeições e as imperfeições do mundo; gente propensa a buscar na falsidade dos filtros a satisfação que deveria ser obtida a partir de uma abordagem mais realística do mundo.

Eu nunca acredito que a vida dos meus “amigos” de rede social seja tão boa ou tão ruim quanto elas aparecem em seus perfis. Aliás, dá para contar nos dedos das mãos (na verdade, nos dedos de uma única mão) quais, das centenas que aparecem ali, são realmente meus amigos. Amizade é uma relação sublime demais para ser reduzida a este mundo bastante superficial das redes sociais.

Não, não precisa, agora, sair por aí publicando aquelas suas fotos ridículas. Sabe, é bem mais recomendável apresentar-se aos demais com delicada discrição do que com filtros falsificadores.

Realmente, desconheço lugar que retrate a vida de maneira tão falsa quanto as redes sociais. É exatamente por isto que nosso conceito sobre a nossa e a dos outros não deve se basear no que vemos nelas.

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Por Gooldemberg Saraiva / Contato: (88) 99972-5179 / E-mail: bergsaraiva@gmail.com