Em Quixadá, a demagogia deixou de ser exceção à regra

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Todo político carrega dentro de si uma boa dose de demagogia. É dela que muitos destes senhores e senhoras que representam o povo retiram seus discursos baratos que, caso fossem impressos, bem que poderiam preencher prateleiras naquelas lojas de R$ 1,99. É a demagogia, aliás, que muitas vezes aparece como única base das ações das Excelências escolhidas de quatro em quatro anos.

Demagogia é um termo de origem grega que significa “arte ou poder de conduzir o povo“. É uma forma de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar a massa popular, incluindo promessas que muito provavelmente não serão realizadas, visando apenas a conquista do poder político. Trata-se da habilidade de conduzir expectadores a uma falsa situação.

A demagogia é até suportável quando se trata de exceção à regra. Porém, quando se transforma em esboço fixo de atuação, é não apenas insuportável, mas também motivo para repugnância. A experiência nos mostra que não há político ou partido, de esquerda, de centro ou de direita, que escape de ser pego, em algum ponto de sua história, por essa doença moral.

Como é relativamente fácil de ser detectada, a prática demagoga tende a enfraquecer toda a classe política aos olhos do povo. Talvez seja a grande responsável pelo baixo interesse dos jovens em ingressar no mundo da política. Não é algo com o que o espírito revolucionário dos jovens normalmente se identifique.

demagogiaInfelizmente, no que tange à prática política em Quixadá, é possível dizer que a demagogia já deixou de ser apenas exceção à regra para se transformar em característica basilar de atuação. Alguns eventos ocorridos durante a última semana nos ajudam a exemplificar esta constatação. Longe de querer julgar adversamente qualquer político, muitos dos quais possuem bons serviços em prol da população, esta avaliação se presta apenas a verificar um exemplo específico de prática demagoga.

Na última sexta-feira (31), uma delegação de parlamentares “cheios de indignação” fez uma visita ao hospital Eudásio Barroso, principal equipamento público de saúde do município. A intenção da visita era verificar a procedência de uma denúncia dando conta de que aquele nosocômio não dispunha de materiais e medicamentos para atender a população, isso apesar dos gastos estratosféricos da gestão municipal com a área da saúde.

Ao realizar tal visita, na qual a veracidade da denúncia foi constatada, os vereadores agiram com legitimidade e corretamente. É este mesmo o papel dos parlamentares do município: fiscalizar e cobrar. Quando colocadas num contexto mais amplo, porém, ações nobres deste tipo revelam a boa dose de demagogia da qual os políticos são inapelavelmente portadores e, além disso, nos mostram o quanto os cidadãos esquecem facilmente das ações contraproducentes de seus políticos, perdoando-lhes incoerências das mais gritantes. Vejamos.

Há pouco tempo a Câmara Municipal de Quixadá foi palco de uma inédita CPI para avaliar a condução da saúde nas últimas três administrações. Dada a grandeza da tarefa, a própria proposição de realizar algo do tipo em tão pouco tempo, com parlamentares inexperientes à frente das investigações, foi demagoga. Quando a proposta de CPI foi estraçalhada para alcançar outras administrações, era a demagogia entrando no terreno. Mas voltemos aos fatos mais atuais.

A visita feita ao hospital pelos vereadores resultou na produção de um relatório que será encaminhado ao Ministério Público Estadual. A intenção dos vereadores é que o prefeito de Quixadá seja acionado pelos promotores e forneça explicações. Mas, espere. Voltemos à CPI da Saúde, porque pelo menos três coisas nela pedem nossa atenção.

Primeiro: relatos de testemunhas, gravados em áudio e vídeo durante as investigações, mostraram que pelo menos uma ex-secretária da pasta da saúde praticou usurpação de função pública ao assinar processos licitatórios com datas retroativas e obrigar servidora sob seu comando a assinar recebimento de mercadorias que nunca foram entregues, o que configura, no mínimo, trato imoral do cargo confiado.

Segundo: a CPI cravou em uma passagem de seu relatório conclusivo as seguintes palavras: “a Comissão Parlamentar de Inquérito constata a Ingerência Administrativa no que pertine a aquisição de medicamentos e materiais médico-hospitalares, tendo como responsáveis os gestores que passaram pela pasta da Saúde”Ou seja: para os parlamentares que investigaram a atual gestão, ficou comprovada “Ingerência Administrativa” por parte daqueles a quem o prefeito confiou o comando da pasta.

Terceiro: os parlamentares também verificaram a existência de uma prática absurda de superfaturamento na compra de um gerador para o hospital Eudásio Barroso. Traduzindo: alguém roubou dinheiro do bolso dos contribuintes. (Para ler sobre mais irregularidades constatadas pela CPI, clique aqui.)

demagogia3Diante dos fatos acima narrados, o que fizeram os vereadores? Votaram contra o relatório da CPI e engavetaram as investigações. Há quem diga que a recusa em enviar o relatório da CPI para o Ministério Público foi motivada pelo desejo de proteger aliados políticos. Procedendo ou não, o fato é que alguns vereadores que votaram pelo arquivamento da CPI da Saúde fizeram parte da delegação “indignada” que visitou o Eudásio Barroso na última sexta-feira, assinando sem problemas um documento para o MP. Desta vez, porém, só o prefeito atual seria prejudicado.

A verdade é que por mais que aquela visita tenha sido legítima e benéfica para o povo, não é possível desperceber a dose cavalar de demagogia envolvida na ação. Aliás, a falta de medicamentos nos equipamentos públicos de saúde de Quixadá não é nenhuma novidade. Este colunista aqui lembra muito bem de ter recebido, desde o princípio desta catastrófica administração municipal, o honroso título de “terrorista”, apenas por apontar a realidade que hoje os nobres parlamentares constatam com tanta “surpresa”.

Esta análise, no entanto, serve menos para criticar os parlamentares e mais para promover entre os leitores uma avaliação desapaixonada das ações daqueles que nos representam no poder público.

A demagogia é, de fato, uma desgraça que merece ser combatida. É por causa dela que nosso Município, nosso Estado e nosso País deixam de produzir segundo todo o potencial que possuem. A disputa eleitoral de 2016 vem aí, e não pensem que ela ainda não começou. Os bastidores fervilham. Será mais uma chance dada ao povo para corrigir eventuais escolhas erradas ou, ironicamente, para ser demagogo também.




Comentários

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  1. O povo tem que começar a praticar o desapego as paixões partidárias, Quixadá precisa de uma cara nova na política. Não falo só do executivo, mas de um legislativo renovado quase que por completo. Me recuso a acreditar que o povo de Quixadá permitirá que nas próximas eleições municipais, permaneçam os velhos “ideais” PaTidaristas/aPaixonadisTas ou mesmo os “sanguessuguistas”/”Baquitistas”. Meu povo, é hora de acordar, sair da zona de conforto e lutar pela nossa cidade, uma cidade que tem um enorme potencial, mas que não cresce como poderia por culpa da ineficácia e ineficiência dos gestores e legisladores. Vamos abrir os olhos para enxergar e dar oportunidade a novos e verdadeiros administradores e pessoas comprometidas com o bem comum. Nossa batalha será vencida na urna. Eu já estou vivendo a expectativa de 2016. Muda Quixadá!

  2. Fala-se muito de Quixadá, através da imprensa falada e escrita. Eu, que gosto de observar todas as ocorrências, percebo que a imprensa sabe muito mais e não divulga por temor às consequências, isto está evidente nas entrelinhas. Até o Ministério Público se omite, não sei se por falta de denúncias bem formuladas ou por medo. A verdade é que os crimes políticos administrativos do nosso município continuam sempre impunes.

  3. Gostaria de lembrar ao autor desta matéria que esse problema na saúde de Quixada começa a se agravar com o incêndio ocorrido no anteriormente prédio da secretaria de saúde municipal. O fato e que o descrito aqui deve ser visto não somente como um ato jornalístico mas d investigação. Não podemos esquecer do incêndio criminoso dos transmissores da rádio. Essa cidade precisa de um representante que seja imune as antigas coligações políticas locais, seja ela A e B.

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