A polêmica gerada pelo fato do Mister e da Miss Quixadá, escolhidos no último Quixadá Top Fashion, não serem naturais deste município não faz jus ao espírito acolhedor e à história deste torrão que, por tantas vezes, acolheu e adotou, e hoje se orgulha de nomes que não nasceram aqui, mas que por amor à Terra dos Monólitos, dela se tornaram filhos.
Aderaldo Ferreira de Araújo, o imortalizado Cego Aderaldo, imbatível na rima e no repente, amado pelos quixadaenses a ponto de ganhar um monumento na porta de entrada da cidade, o Terminal Rodoviário, não era de Quixadá. Ele nasceu no Crato em 24 de junho de 1878. Também não morreu aqui, mas em Fortaleza, no dia 29 de junho de 1967. Seu apego a Quixadá não é sequer questionado pelo fato de não ser natural do município. A obra e a proximidade dele com nossa gente são suficientes para torná-lo muito mais quixadaense do que muitos que nasceram aqui.
A tradutora, romancista, escritora, jornalista, cronista prolífica e importante dramaturga brasileira, primeira mulher a ocupar a Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz – que muitos gostam de pensar que era natural de Quixadá -, também não era. Ela nasceu em Fortaleza no dia 17 de dezembro de 1910. Morreu no Rio de Janeiro no dia 04 de novembro de 2003. Sua proximidade com Quixadá, no entanto, não apenas é aceita, mas também é tida em grande conta, tendo contribuído para que o nome deste município percorresse com ela todos os lugares por onde a imortal passou. Orgulhamo-nos de Rachel de Queiroz, mas ela não era natural de Quixadá.
Benfeitor absolutamente amado em sua época, Padre Luiz Braga Rocha foi descrito assim pelo memorialista Amadeu Filho: “Considerado por muitos como o segundo fundador da Terra dos Monólitos. Exagero? De forma alguma, porque mesmo sem descuidar do seu ‘rebanho’, fez valer o seu dinamismo empreendedor, dotando a cidade de inúmeros benefícios que mudaram quase que por completo, a estrutura organizacional.” Apesar de tudo isto, Padre Luiz não era de Quixadá, mas nasceu no dia 06 de junho de 1907 na cidade de Caucaia. Indubitavelmente, no entanto, quixadaense!
Por último, um exemplo contemporâneo: Dom Adélio Tomasim, felizmente vivo e atuante, querido por dez entre dez quixadaenses, grande benfeitor desse município, NÃO É NATURAL DE QUIXADÁ. Nasceu em 27 de abril de 1930 em Montegaldella, província de Vinceza, na Itália. Sua ligação com a Terra dos Monólitos, no entanto, é absolutamente incontestável.
Alguém pode, não obstante, perguntar com razão: “Como comparar a obra de tais pessoas com um Mister e uma Miss?” A ideia, porém, não é fazer comparação, mas mostrar que todos aqueles que desejaram usar seus dons a favor de Quixadá sempre foram bem recebidos, aceitos e amados. Se aceitamos este princípio de atuação, que se tornou uma marca registrada da nossa gente, em questões tão mais fundamentais, por que a dificuldade em fazê-lo em relação ao Mister e Miss Quixadá, cuja beleza está sendo oferecida em benefício dos quixadaenses?
“Mas Quixadá tem pessoas tão bonitas ou mais bonitas do que estes”, alguém pode insistir. De fato, pode ter. Basta uma rápida passeada pelos perfis do Facebook para nos depararmos com exemplares belíssimos de homens e mulheres quixadaenses. Quantos deles, porém, se inscreveram no concurso?
Aliás, sem querer entrar no mérito dos critérios estabelecidos no regulamento da competição, estava claro para todos os participantes que pessoas de fora poderiam ser aceitas, desde que residissem há pelo menos um ano no município. Ninguém questionou antes nem se sentiu prejudicado depois.
As críticas advêm, penso, de muitos que desconhecem o regulamento do concurso, o histórico acolhedor de Quixadá e, principalmente, é fruto de um conceito fechado em torno de uma visão que se mostra bastante parcial. Afinal, se num concurso de beleza, para representar Quixadá, há de se fazer necessário ter nascido aqui, numa disputa de futebol, para representar bem as habilidades da terra, há de ser fundamental que todos os jogadores tenham nascido em Quixadá. Por este conceito, passa da hora de desmanchar o Quixadá Futebol Clube. Felizmente, as coisas não são bem assim.
Portanto, o Mister Quixadá, Eric Crispim (de Fortaleza), e a Miss Quixadá, Morgana Carlos (de Icó), podem e devem se sentir acolhidos pelos quixadaenses. Que a atuação deles leve o nome desta terra para muitos outros lugares, e que o empréstimo de seus dons de beleza engrandeça cada vez mais nossa fama de povo hospitaleiro e compartilhador de vitórias, dons e glórias.
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Por Gooldemberg Saraiva / Contato: (88) 9 9972-5179 bergsaraiva@gmail.com
Matéria muito bem apresenta como sempre, espero que todos os críticos leiam ela e se convençam dos fatos.
Eu fico admirada com a capacidade que o ser humano tem de se incomodar com a vida alheia. Tanta coisa no mundo de mais importância para se incomodar e se preocupar, como por exemplo : a grande quantidade de bebês diagnósticados com microcefalia que nesse momento depende exclusivamente de nós, de nossa consciência, de nossa ação pra combater esse mosquito tão pequeno que está fazendo um grande estrago, mas nem todos se importam pra cuidar de seus lares, de sua rua, enfim de sua região inteira. E daí se sua região não está na área afeta???? Você vai perder tempo se importando com os mister’s Quixadá que não são de Quixadá?????
Ah!! Por favor me economizem!!!
Parabéns meninos, vocês merecem.
P.s. Morgana, sou de Icó também e estou feliz por você e pelo Eric, principalmente porque eu também amo Quixadá de paixão. Parabéns seus lindos!!!!
Caro Gooldenberg
Venho aqui lhe parabenizar pelo texto em toda sua plenitude. Venho aqui também aproveitar para dar meu testemunho de mais uma pessoa que chegou a essa maravilhosa cidade e que teve um caloroso acolhimento desse povo que sabe receber tao bem as pessoas que aqui chegam. Hoje me orgulho de morar nesta cidade e de ter na parede da minha casa o titulo de Cidadão Quixadaense. Esses dois jovens não tem culpa de não ter nascido aqui mais o que interessa e o sentimento que já nutrem por nosso município. Parabéns pelas palavras.
Caro Goldemberg, fiquei emocionado com seu discurso. Digno de aplausos, representa o sentimento do verdadeiro espírito acolhedor que tem essa cidade. Gostaria de destacar um parágrafo em particular: “Alguém pode, não obstante, perguntar com razão: “Como comparar a obra de tais pessoas com um Mister e uma Miss?” A ideia, porém, não é fazer comparação, mas mostrar que todos aqueles que desejaram usar seus dons a favor de Quixadá sempre foram bem recebidos, aceitos e amados.” Você citou ótimos exemplos e muitos outros certamente teríamos para destacar em todos os ramos de atividades. Parabéns a você pelo excelente texto e muito especialmente meus parabéns ao casal que hoje são legítimos representantes da beleza de nossa querida terra dos monólitos.